Shiva
está expressando um jeito de ser ou humor de Deus Supremo. Afinal, “Krishna contém Hara, desde o ponto de vista Vaishnava, porém, Shiva
contém Hari, desde o ponto de vista Shaiva. Na verdade, sendo Deus a Pessoa
Suprema, sempre que Ele é considerado como tal, trata-se da mesma e única
Absoluta Consciência que está sendo percebida, de alguma maneira, pela mente
humana. Muitas vezes, esta mente, ainda em estado condicionado, pretende
desconsiderar o que lhe escapa à razão, de modo que os que seguem uma religião
deixam de aceitar o que outros realizam através de uma linha religiosa
diferente da sua. Desta forma, fragmenta-se o pensamento, fragmentando-se
também à compreensão do Supremo Significado dos nomes do Senhor[1]”.
Sendo assim, para
quem o compreende dessa maneira, o Senhor se relaciona com a pessoa a Ele
devotada de uma maneira em particular, a maneira que fala mais ao coração do/a
devoto/a. Em um certo momento, Ele então veio a orientar-me, direcionando-me ao
que precisa ser realizado ainda. Isso tem sido assim, desde que houve a
necessidade de abrir-me para expressar significados transcendentais das
vivências materiais e/ou o que as vivências materiais em si representam para a
vida transcendental. Isso acontece para quem atinge certo estágio de
espiritualidade emancipada, quando não importa se aquele/a que se emancipou se
ocupa com questões materiais, já que ele/a sempre está consciente no plano
divino, consciência essa que transcende as percepções que se limitam ao que os
órgãos vitais conseguem captar.
Associamos tal estágio à maturidade da flor de
lótus que está no coração individual de cada um, quando ela se abre, exalando
doce fragrância. “Neste estágio, a alma transparece a quem a observa com
atenção a condição espiritual que a caracteriza. Tal processo de abertura da
flor de lótus envolve etapas de renúncia, o que conduz ao que Shri Krishna
menciona quando ensina que:
kama-krodha-vimuktanam yatinam yata-cetasam
abhito
brahma-nirvanam vartate viditatmanam
“Para aqueles ascetas, que estão livres do
desejo material e da raiva, que subjugaram suas mentes e que realizaram o eu
interior, a morada da liberação está presente ao redor (Bhagavad-Gita 5.26)”. Esta morada permite
que possa haver acesso ao universo de rasa[2]”, ou seja de intimidade pessoal na
relação com a Pessoa de Deus, com Krishna, Shiva (ou como Ele se chame para
você). De dentro de uma condição assim, escrevi alguns livros, um dos quais foi
intitulado Shiva Tantra para Libertação Espiritual – o Tantra da Pessoa de Deus
(Bhagavan), a partir do qual, retomo aqui trechos de um diálogo que pude
transcrever das minhas experiências com Mahadeva.
Shri – Está se referindo, então, a
aprendizagem que a alma eterna tem que ter dentro do mundo material? Ensina-me
se correta estou, Shambhu, meu eterno amor, meu Senhor. Começo a pensar sobre
o que Você mesmo me falou. Seria agora o inverso do que já me ocorreu? Ou seja,
assim como precisei aprender a, partindo de um corpo material, viver a
experiência transcendental, agora tenho que estabelecer-me no mundo material
enquanto alma transcendental?
Shiva – Esta é
a verdade que andava tentando entender e agora entende, enfim. Não há como ser
feliz eternamente, enquanto alma eterna, se a alma que não pertence mais ao
mundo material não aprender a dentro dele se expressar, enquanto eterna e ilimitada
ela consegue ser, estando absorta no mundo que transcende aos limites da escala
material (como ela está). Desta forma, inverta suas percepções sobre si mesma
e desenhe outras lógicas, de modo a pensar e ser quem de fato é, apesar de
viver em um dos infindáveis universos externos ao Meu
mundo transcendental.
Shri – Pode ser mais específico agora,
dando-me mais pormenores sobre como isso se faz possível haver?
Shiva – Está certa sempre que controla
as ideias, assumindo-Me como quem pensa o que deve pensar. O difícil tem que
passar, de modo a que consiga aos seus modos reorganizar. Para que haja
controle, tem que se compreender, de maneira a perceber-me como quem pensa e a
si mesma ao que está sendo pensado. Então, se deixe estar pensando o que eu
penso, aceitando o que estou fazendo-lhe entender. Entenda-se por se controlar,
desenvolvendo as ideias que eu precisar que venha a desenvolver.
Shri – Quando Você me oferece Suas
explicações, entendo o que quer dizer. No entanto, ainda tenho muito que
praticar. Portanto, abro-me agora plenamente para Suas orientações.
Shiva –
Querida de Minha Eterna Suprema Alma, que transcende ao mundo material e ao
que é meramente pertencente ao universo da vida individual, ouça-Me e pratique
o que tiver que praticar, a fim de a Mim mesmo compreender. Compreendendo-Me,
irá entender-se com mais clareza, afinal, é a mesma Contraparte que em unidade
plena Comigo eternamente está. Para entender-se assim, veja-Me agindo em tudo
o que a faz haver; e para se ver sendo o que eu faço que haja por meio de seu
jeito de estar, aceite-se sendo o que eu a faço ser. É difícil de praticar ao
que eu digo?
Shri – A
dificuldade penso estar na maneira de interagir com este mundo material, o qual
por muito tempo vi como sendo impossível de controlar. Agora vejo-o no
controle, mais, ainda preciso aumentar isso em mim, de modo a que este novo
jeito de ao mundo ver sobrepuje o jeito que havia antes de melhor Lhe compreender.
O que me instrui, então, a procurar perceber?
Shiva
– Instruo-lhe a amar ao mundo do jeito que ele se faz, pois, seu amor está em
Mim e o mundo também está. Entenda-se e a Mim como o que faz ele (o mundo)
haver, de modo a ver-nos travando interações amorosas em tudo o que na forma
dele se expõe. Ainda mais claramente irá a tal mecanismo poder ver nos eventos
que a envolvem diretamente e naquilo que precisa mais diretamente enquanto
pessoa pensar. Pense-se, então, estando em meu meio de me manifestar e ao seu
modo de se expressar em Mim como o que causa o mundo da maneira em que ele está
e aos mecanismos que fazem ele ser o que ele é.
[1] Do
livro Religião Bhagavata da Nova Era, Shri Krishna (com Shri Krishna Madhurya),
Sétimo Raio (2014, p. 25). Trata-se de uma obra básica para a expressão Neo
Bhagavata do Hinduísmo Integral, que estudamos, praticamos e propagamos.
[2] Do
livro Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus, de Shri Krishna Madhurya
(2016).