segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Shiva Shakti Tantra

 


Conceituo Tantra, como sendo “filosofia e prática; e um conjunto de tratados e de conhecimento, que visa a abordar o ser humano em suas múltiplas dimensões”. No caso específico de Shiva Tantra, este conjunto se baseia essencialmente na adoração à Shiva Shakti, pois, tem-se como Meta de seu(s) processo(s) a União Mística com Deus (Shiva; ou Shakti no Shakti Tantra).

Aqui é importante introduzir a compreensão do que exatamente significa União Mistica com Ele. Então, Shiva explica:

 

União Mística não é mera ilusão de acreditar-se que se alcançou a fusão da forma com o que está acima da usual humana compreensão. Por União Mística que se compreenda um estado de completa conclusão ou síntese do que se entende como sendo a contraparte que busca se unificar com a Contraparte que a unifica por qualificá-la como quem Consigo conseguiu se unir. Unir-se é Comigo para sempre estar, junto de meu pensar se deixar permanecer e ao que Eu sinto permitir-se também sentir. Sendo assim, para desta forma viver, alguém tem que, com profundidade, se deixar à Minha Pessoa conhecer. Sem realizar-me enquanto tal, não há como experimentar à verdadeira forma de União que Mística na eternidade se faz”.


Para tanto, em uma dentre tantas outras estratégias tântricas, dá-se orientação ao despertar da kundalini, a qual, a partir da base da coluna, irá ascender ao chakra da coroa, causando libertação e iluminação espiritual. A kundalini é uma fagulha da própria energia feminina (Shakti) presente na experiência de vida de cada alma individual (jiva) e a libertação desta última está na realização da união dela com sua Fonte (Shaktiman) ou Shiva, a Consciência Absoluta.

Tal união entre Shiva e Shakti, em Shiva Tantra, é buscada por meio do uso de prática espiritual (sadhana) e aplicação de instrumentos tais como mantras, yantras e rituais. Mas, no caso da busca personalista por tal unidade com o Senhor, deve-se compreender que não existe propriamente uma fusão da alma com Seu Criador/Sustentador/Destruidor. O que existe é a realização dentro de si do que é essência masculina e, portanto, da fagulha de Shiva, a qual lhe faz ser existente.

Ademais, tal realização se completa quando, ainda no íntimo da pessoa humana, à fagulha de Shakti se realiza, sendo ela a porção de essência feminina que, na interação com a masculina, concede vida e movimento para o ser individual.

(...). Trata-se de uma União que não é fusão completa e eterna, porque, embora seja de fato um tipo de fusão, ela não representa a perda da identidade individual da alma, enquanto associada da Pessoa de Deus. Então, fundir-se com Deus, conforme o que aqui se descreve é, e ao mesmo tempo não é, autopercepção não-dual e/ou dual para com Ele.

Esta forma de Tantra pode ser estudada e praticada em dedicação exclusiva ou em paralelo a outras práticas religiosas e esotéricas, de modo a complementá-las e reforçá-las, bem como de suprir deficiências e aumentar as oportunidades de avanço em vida espiritual. Deve-se, porém, compreender que a União entre Shiva e Shakti é a união entre a matéria e o espírito ou a forma e a consciência, o que só é possível de realizar através da união entre a alma e sua Fonte.

Sendo assim, tal Mística União não deve ser vista como um mero símbolo de intercurso sexual, como alguns pensam que seja, embora de fato qualquer elemento da vida possa ser compreendido como canal de acesso à Divindade. Acontece que o Tantra não-dualista baseia-se na percepção impessoal do Brahman, que está em tudo. Portanto, quem o pratica pode buscar por Deus através da observação e contato com qualquer evento ou mecanismo da natureza e da vida.

Não há nada de errado em entender que a vida seja assim, mas, quando partimos de uma percepção dualista/não-dualista (Bhedabheda) e, mais particularmente, pessoal de Deus (Religião Bhagavata), vemos o Tantra como um conjunto de oportunidades para que o Todo seja tocado pela alma que busca por seu Foco de Origem, que é também a sua Meta Última.

Segundo tal compreensão, o Supremo Brahman é a refulgência de Bhagavan (Pessoa Absoluta), a qual ilumina o mundo e esclarece a consciência, devendo ser compreendido e realizado, para que haja sublimação do ato de ser e superação da ignorância (Avidya).

 

Artigo obtido do livro Shiva Tantra para a Libertação Espiritual, de Shri Krishna Madhurya, Editora Sétimo Raio – RJ, 2017.

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