domingo, 7 de dezembro de 2025

SHIVA

 


Shiva é uma dádiva que se fornece por Ele mesmo para o ser humano de cada uma das épocas ter consciência de si e de Deus. Ele se faz compreender a partir de diferentes ângulos de visão, porém, dentre tais ângulos, apenas os que se referem à mais plena compreensão dEle serão aqui considerados.

A plenitude da compreensão de Shiva está na absoluta consciência, a qual só pode ser alcançada através do amor puro e da perfeita devoção. Então, como é apresentado em Shiva Tantra para a Libertação Espiritual (2017):

“Assim como em Ardhanareshwar, a condição andrógina de Shiva (em Shakti) e/ou de Shakti (em Shiva), há União Mística perfeita, a alma in­dividual atinge sua bem-aventurança ao encontrar dentro de si o que a leva a realizar aquela mesma condição em Bhagavan, in­dependente da identidade que Ele tenha para quem o busca. Ao realizar a União Mística dos dois princípios opostos e comple­mentares originais, então, a pessoa humana realizará o equilíbrio entre ambos os princípios dentro de si”.

Bhagavan é a Pessoa de Deus, é Shiva, Shankara, Mahadeva. A União Mística é a perfeita maneira de existir, com clareza de consciência eterna e, portanto, ininterrupta. Quando a alma atinge tal estado de autocontemplação, ela conhece Shiva. Desejamos falar sobre Ele, a Shakti e a alma em estado de sat-cit-ananda - felicidade eterna na vivência da suprema verdade.

Se quiser nos conhecer melhor, entre em contato através do e-mail srikrishnamadhurya@gmail.com.

 

Veja também:

Mística Luz dos Jardins de Krishna

https://jardinsdekrishna.com/


Shri Krishna Madhurya

http://srikrishnamadhurya.blogspot.com/

 

Darshana de Mahadeva (Através do Lingam)

 


Darshana é a benção de olhar para a Divindade, que está em uma Deidade, no Templo, em algum lugar sagrado e/ou uma pessoa santa. Estando em uma peregrinação na cidade de Nashik e adjacências; e, posteriormente, em Vrindavana e Govardhana, me foram concedidas algumas de tais bençãos. A partir delas, escrevo sobre alguns dos lugares, Templos e Deidades de Mahadeva que visitei (na figura acima, o Naro Shankar Mandir, em Nashik).

Minha intenção é descrever as glórias da devoção a Shiva, que se expressam na forma do Serviço Devocional, quando ele se constitui da visita a algum dos lugares sagrados de Shankara (Bholenath). Quero também compartilhar algo que possa estimular o(a) devoto(a), quando estiver escolhendo uma ou mais peregrinações, dentro dos estados de Maharashtra e Uttar Pradesh (Índia).

 

Kapaleshvar Mahadeva (e Kapureshvar Mahadeva)

A cidade de Nashik[i] é local sagrado por ter abrigado Sita, Rama e Lakshmana, durante parte do exílio que assumiram para manter a honra de uma promessa do pai (e sogro), o rei Dasharatha. O Ramayana descreve com detalhes como a rainha Kaykeyi leva a família toda à desgraça ao exigir do esposo que seu filho Bharata seja coroado no lugar de Rama e que este último seja exilado na floresta por quatorze anos.

A mesma escritura narra que o sábio Agastya instruiu Rama a ir para aquele local, dizendo-lhe: “Procura Panchavati! Ela é uma floresta encantadora, que irá encantar Maithili (Sita). Aquele lugar, digno de todo o louvor, não é longe daqui, ó Raghava (Rama), e fica perto do rio Godavari; Sita será feliz lá. Cheio de raízes, frutas e todos os tipos de aves, ele é reservado, ó herói de braços longos, e é adorável, agradável e sagrado. Tu de caminhos justos, que és sempre ativo e capaz de defender todos os seres, residirás lá, ó Rama, a fim de proteger os ascetas” (Ramayana 3.13).

Panchavati é visitada diariamente por centenas de peregrinos atualmente, sendo que o Kapaleshvar Mahadeva Mandir se situa ali[ii]. O darshana de Mahadeva em Nashik está misturado com a presença divina de Sita Rama Lakshmana, sendo Ele o Senhor de Rama (e Rama o Seu Senhor). O templo de Kapaleshvar está situado próximo às margens do Godavari e perto do Rama Kunda[iii]. Trata-se de uma área privilegiada da cidade, desde o ponto de vista devocional.



Ele é famoso por ser o único templo de Mahadeva sem Nandi, o que se explica através de um aspecto da lila da Deidade. Conta-se que Shiva teria se banhado no Rama Kunda (figura acima), por instrução de Nandi, a fim de se purificar por ter matado acidentalmente uma vaca. No lugar dessa penitência, o lingam está instalado, e Ele é Kapaleshvar Mahadeva, que tem Nandi como seu guru. Por esse motivo, Nandi não está presente contemplando o lingam, como em todos os outros templos de Shiva.

Kapaleshvar nos ensina o poder da penitência e da purificação nos rios e kundas sagrados. Não muito distante dEle, existem outras deidades de Shambhu, sendo Kapureshvar Mahadeva uma delas, a qual chamou bastante minha atenção. Ela está instalada em um pequeno templo, muito pequeno mesmo. As pessoas fazem fila para entrar em levas e de maneira coordenada pelo pujari que está ali presente. Com esse lingam, entendi que a devoção pura e a rendição a Shiva é sempre reconhecida por Ele, independentemente de onde o(a) devoto(a) esteja. Também revisei em meu coração que não importa se um templo é opulento ou não, Mahadeva está em tudo e em todos Seus espaços. Em um templo tão simples, encontramos uma Deidade muito forte, nos doando um darshana bastante intenso e perfeito.

 

Trimbakeshvar Mahadeva/Kushavarta Kund

Dentre os doze jyotirlingas (jyotir = luz divina, irradiância; lingam = forma fálica de Shiva) mais importantes de Shiva, Trimbakeshvar é a oitava. Ele está situado na cidade de Trimbak Nagar, a 30 Km de Nashik, no sopé da Brahmagiri Parvat (veja imagens sobre essa montanha, clicando aqui). Esse linga tem três faces, sendo a manifestação de Brahma, Vishnu e Mahesh (da Trimurti)[iv]. A lila do seu aparecimento está associada à penitência de Gautama Rishi que, após ter sido injustamente acusado de matar uma vaca, buscou pelo abrigo de Mahadeva, que lhe concedeu como benção a descida de Godavari[v], um aspecto de Ganga.

No local onde Godavari aparece, há o Gautama Kunda (ou Kushavarta Kunda), sítio de congregação de devotos, durante o Kumbh Mela, que acontece em Nashik, a cada 12 anos. Esse kunda fica a aproximadamente 100 m do templo, tendo uma vibração carregada da essência divina que o faz existir. O templo e o kunda nos ensinam que a maledicência contra o Ser Divino, que está em um devoto puro, não tem vida longa. Além do que, a benção que Shiva concede a Gautama fortalece a fé na tapasya (penitência) e na devoção a Deus acima de qualquer coisa. Ele é capaz de mudar a geometria de uma região para abençoar um(a) devoto(a), mostrando-se presente onde as bençãos acontecem, a fim de estendê-las infinitamente aos que o amam. No Trimbakeshvar Mahadeva Mandir (figura abaixo), grandes filas de devotos(as) buscam por tais bençãos, através do darshana da jyotirlinga de três faces.




 

Grishneshvar Mahadeva

Outra jyotirlinga que visitamos é a décima segunda das 12 principais mais importantes formas fálicas de Mahadeva na Índia. Grishneshvar (ou Grushneshvar) Mahadeva é uma das três jyiotirlinga do estado de Maharashtra, juntamente com a anterior – Trimbakeshvar e Bhimashankar. O distintivo dela é que se trata da única das doze jyotirlinga que pode ser tocada e adorada diretamente pelos devotos(as) que a visitam. Tivemos o prazer transcendental de banhar Grishneshvar Mahadeva, oferecendo-lhe flores, folhas de bilva e água do Ganges.

A lila do aparecimento da Deidade se refere à devoção pura de Grushma, que perdera o filho garoto, assassinado pela irmã ciumenta do marido de ambas. Por tê-la como devota sincera, Mahadeva lhe devolve o filho vivo e aparece Ele mesmo das águas do rio, onde o corpo do garoto tinha sido afundado após ter desfalecido. Shiva, ao aparecer perante Grushma, oferece-lhe a oportunidade de pedir pela benção que desejar. A devota pede a Mahadeva que perdoe sua irmã e que permaneça naquele lugar, tornando-o sagrado. O Senhor lhe concede as duas graças, ficando ali, na forma de Grishneshvar (ou Grushneshvar) Mahadeva.

Portanto, o darshana dessa Deidade nos ensina que devemos dar acesso a todos(as) que queiram buscar aproximar-se mais de Deus (de Shankara). Sempre que tivermos nós mesmos nos aproximado mais dEle de alguma maneira, devemos compartilhar com os que queiram também se aproximar daquilo que nos permite tocá-Lo. Ademais, Grishneshvar mostra que precisamos perdoar sempre, mesmo as maiores ofensas de quem não sabe bem o que faz, quando o que faz compromete a felicidade de outros.

 

Gopeshvar Mahadeva

Já no estado de Uttar Pradesh, permanecemos por mais tempo em Vrindavana e adjacências, tendo contato mais intenso com Gopeshvar Mahadeva. Gopeshvar é a forma fálica de Shiva que se manifesta na Madhurya Rasa Lila de Radha Krishna[vi]. Afinal, Vrindavana e a região de Vraja como um todo, onde ela se localiza, são voltadas para o Casal Supremo nesse humor. Tudo em Vrindavana se desenvolve em torno de Radhe Shyam, inclusive a cultura e a linguagem braj bhasha[vii].

Dentro disso, Mahadeva é adorado como Gopeshvar, por ter adentrado na dança da rasa, desejoso que estava de viver da experiência. A dança da raça é a culminância do amor conjugal (em Madhurya bhava), que Radha e as outras gopis nutrem por Krishna. Ela é descrita no Bhagavata Purana (10.29), quando, nas noites de outono, as gopis abandonam todos seus afazeres para correr buscando por Krishna, que as chama através do toque da Sua flauta. Então, após episódios de encontros e separações, “começou a dança festiva, chamada rasa, embelezada esplendidamente pelo círculo de gopis com Krishna, o Grande Mestre de Yoga de inconcebíveis poderes místicos, que entrou entre cada duas gopis e com Seu braço ao redor do pescoço da gopi adjacente, fez com que cada donzela se considerasse a mais querida por Ele” (BP 10.33.3).

É dito que Mahadeva, disfarçado de gopi, adentra na dança da rasa, tornando-se um Mestre que ensina as almas devotas que desejam fazer o mesmo. Esse Mestre é Gopeshvar Mahadeva, que está em muitos dos linga de Vrindavan. Em alguns templos locais, em que a Deidade de Shambhu está presente, como o Bankhandi (Bankhandeshvar) Mahadeva Mandir e o Narsimha Dev Mandir (figura abaixo), o linga está desnudo, durante o dia; e vestido de gopi, durante à noite. Sendo assim, o linga de Gopeshvar está ensinando como se adentra na lila pessoal de Deus (Krishna Shiva), por meio da mística das noites de Vrindavana. Por esse motivo, deve-se começar o yatra de Vrindavana, visitando Seu templo.






[i] Nashik é uma das quatro cidades sagradas que recebem o festival do Kumbh Mela, junto com Prayag, Haridwar e Ujjain. O festival acontece nos quatro sítios onde se reconhece que as gotas de amrita (néctar da imortalidade) caíram, durante o batimento do Oceano de Leite (Samudra Manthan), por devas e asuras. O amrita fornece imortalidade, de modo que as águas dos rios das quatro cidades oferecem aos devotos(as), que nelas se banham, purificação dos pecados e liberação do carma.

[ii] Veja mais detalhes em: https://kapaleshwar.in/.

[iii] A área devocional mais importante de Nashik se localiza em torno de quatro kundas, os quais não têm uma delimitação clara: Rama Kunda, Sita Kunda, Lakshmana Kunda e Hanuman Kunda. A cada doze anos, ocorre um Kumbh Mela em Nashik, quando uma multidão de devotos visita as margens e as águas do Godavari, incluindo os quatro kundas.

[iv] Veja mais detalhes em: https://www.trimbakeshwartrust.com/.

[v] Godavari é um dos Sapta Nadi de Bharatavarsha (Índia como ela é descrita nos textos sagrados), junto com Ganga, Yamuna, Saraswati, Sindhu, Narmada, Godavari e Kaveri, os rios sagrados e suas respectivas divindades femininas. Existe um diagrama que representa os mesmos sete rios sagrados como a recorrência da sétupla divisão do universo, que se manifesta nas subdivisões de um rio cósmico (veja aqui).

[vi] Para conhecer mais sobre madhurya rasa, visite: https://srikrishnamadhurya.blogspot.com/.

[vii] Braj Bhasha é tanto uma língua, quanto uma cultura. Enquanto língua, é reconhecida como dialeto do Hindi. Na religião Hindu local, Krishna é a principal divindade masculina, acompanhado por Radha. Ambos estão presentes em um tipo de devoção local, caracterizada principalmente pela realização de Serviço Devocional (Bhakti) a Radha Krishna, o que dá conformação à cultura local, incluindo literatura, teatro e música. Muitas poesias e canções devocionais, compostas para o Casal Divino, têm sido escritas e cantadas no dialeto.

SHIVA

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