sábado, 4 de janeiro de 2025

SHIVA

 


Shiva é uma dádiva que se fornece por Ele mesmo para o ser humano de cada uma das épocas ter consciência de si e de Deus. Ele se faz compreender a partir de diferentes ângulos de visão, porém, dentre tais ângulos, apenas os que se referem à mais plena compreensão dEle serão aqui considerados.

A plenitude da compreensão de Shiva está na absoluta consciência, a qual só pode ser alcançada através do amor puro e da perfeita devoção. Então, como é apresentado em Shiva Tantra para a Libertação Espiritual (2017):

“Assim como em Ardhanareshwar, a condição andrógina de Shiva (em Shakti) e/ou de Shakti (em Shiva), há União Mística perfeita, a alma in­dividual atinge sua bem-aventurança ao encontrar dentro de si o que a leva a realizar aquela mesma condição em Bhagavan, in­dependente da identidade que Ele tenha para quem o busca. Ao realizar a União Mística dos dois princípios opostos e comple­mentares originais, então, a pessoa humana realizará o equilíbrio entre ambos os princípios dentro de si”.

Bhagavan é a Pessoa de Deus, é Shiva, Shankara, Mahadeva. A União Mística é a perfeita maneira de existir, com clareza de consciência eterna e, portanto, ininterrupta. Quando a alma atinge tal estado de autocontemplação, ela conhece Shiva. Desejamos falar sobre Ele, a Shakti e a alma em estado de sat-cit-ananda - felicidade eterna na vivência da suprema verdade.

Se quiser nos conhecer melhor, entre em contato através do e-mail srikrishnamadhurya@gmail.com.

 

Veja também:

Mística Luz dos Jardins de Krishna

https://jardinsdekrishna.com/


Shri Krishna Madhurya

http://srikrishnamadhurya.blogspot.com/

 

Conceito de Shiva Tantra


 

Resumo do Livro Shiva Tantra para Libertação Espiritual


Podemos conceituar Shiva Tantra como sendo uma filosofia, uma prática e um conjunto de tratados e de conhecimentos, que abrange o ser humano em suas dimensões. Ele se expressa na adoração a Shiva Shakti, tendo como Meta a União Mística com Deus. Em torno disso, o Senhor Shiva explica que União Mística é um estado de completa conclusão, uma síntese; é estar para sempre junto do Seu pensar, onde deixar-se permanecer, permitindo-se sentir o que Ele sente. Ele diz: “sem realizar-me enquanto tal, não há como experimentar a verdadeira forma de União Mística que na eternidade se faz (p. 16)”.

Dentre os caminhos para essa prática, existe a iluminação pessoal através do despertar da kundalini, que é uma fagulha da energia feminina de Deus (Shakti). Quando a alma busca por liberação, tal fagulha, que está ancorada na base da coluna, desperta, ascendendo ao chakra da coroa. Esse movimento acontece quando a kundalini se liberta, realizando-se na sua Fonte (Shaktiman), que é Shiva, a Consciência Absoluta.

Tal busca por liberação se dá através da prática espiritual, com uso de mantras, yantras e rituais, tendo como objetivo a unidade pessoal com o Senhor, não apenas uma fusão com a imanência impessoal dEle, embora também seja uma fusão. O que acontece na verdade é a autorrealização dentro de si da essência masculina - a fagulha de Shiva -, que se completa com a realização da porção feminina no íntimo da pessoa humana (a kundalini).

Dessa forma, no Shiva Tantra, o corpo é visto como uma oportunidade para a busca da verdadeira natureza do ser, com a elevação da consciência e não como obstáculo. Sua prática pode estar associada a outras práticas espirituais e esotéricas, como complemento ao processo de avanço espiritual. Mas, é importante entender que Tantra não se refere a apenas uma troca entre corpos em uma relação sexual, embora mesmo isso possa levar à União Mística entre matéria e espírito, a forma e a consciência, a alma e sua Fonte.

Por estar em cada um dos mecanismos da vida, o Tantra pode ser vivenciado através de um leque de oportunidades. Esse livro aborda uma visão dualista-não dualista (bhedabheda) da União Mística. Propomos que o tantra seja buscado em qualquer evento da natureza ou mecanismos da vida, mas também pela busca de uma relação pessoal com Deus (Mahadeva). Tal visão ilumina o mundo, esclarecendo a consciência, conduzindo a pessoa humana à superação da ignorância (avidya) e a libertação das teias de maya (ilusão material).

Desenvolvendo-se em torno de tais questões, o livro Shiva Tantra apresenta conteúdos inéditos, caracterizando uma Ciência Místico-Transcendental, a qual também se expressa no Religião Bhagavata da Nova Era (2014), em Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus (2016), dentre outras obras. O Shiva Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan) expõe diálogos do Senhor Shiva com sua Shakti, na pessoa de Shri Krishna Madhurya, para que, sob Sua orientação, o leitor estudioso deste Tantra possa colocá-lo em prática.
Então, com essa prática espiritual, pode-se desenvolver o equilíbrio do corpo e a transcendência da mente, a partir de elementos como: meditações, símbolos sagrados, sons e rituais. Além do que, os diálogos, circunstanciados por meio das Consciências feminina e masculina (de Shiva Shakti), levam o praticante a travar contato com o absoluto Senhor (Mahadeva). Este Senhor a todos ilumina e deseja expressar o Tantra desse jeito para as nossas vidas aqui-agora.



Perguntas/Respostas
Diálogo Entre Prema Sakhi e Guru Ma Shri


1 – Para começar, a Senhora poderia falar mais sobre o “conjunto de tratados e conhecimentos” que compõe o Shiva Tantra, o qual se baseia essencialmente na adoração a Shiva Shakti e ao qual a obra se refere?

O conjunto de tratados e conhecimentos é composto por todos os saberes e práticas acumulados pela humanidade que, de alguma forma, contribuem com a compreensão da complementaridade que existe entre a matéria e o espírito, a forma e a consciência, a Shakti e Skaktiman. Esse conjunto é infindável, tendo origens diversas, manifestando-se em todas as regiões do globo e em quase todas as culturas que já existiram ou ainda existem.

2 – Na obra a senhora fala que a “libertação desta última está na realização da união dela com sua Fonte (Shaktiman) ou Shiva, a Consciência Absoluta.” Então com mais detalhes, quais os passos para autorrealização nesta ciência do Shiva Tantra através da ascensão da kundalini?

Seguindo a rota do próprio livro, para começar, é preciso que haja equilíbrio do corpo e transcendência da mente. Isso porque só existe União Mística perfeita quando a pessoa realiza os dois princípios opostos e complementares (masculino/feminino) dentro de si, portanto as dualidades corpo/espírito e mente/consciência precisam ser transcendidos. Então, por meditação, ritualização e outras práticas, é possível dar mais alguns passos em direção à compreensão da ciência do Shiva Tantra. Todas essas questões são tratadas nos próximos capítulos do livro. Quanto à autorrealização em si, ela exige vivência da consciência que está sendo exposta nos diálogos com Shiva (parte II da obra), ou seja, da vida cotidiana enquanto realidade também espiritual e da espiritualidade em tudo o que compõe a vida material.

3- Sobre os yantras e rituais no Shiva Tantra, como fazer uso desses recursos na rotina do discípulo?

Esses recursos só devem compor a rotina do discípulo através do Templo e do(a) Mestre(a) Espiritual autorrealizado(a), enquanto ele(a) mesmo(a) não estiver totalmente pronto para saber usar dos yantras nas suas meditações e/ou executar rituais. Na Religião Neo Bhagavata, tal conhecimento só se torna acessível ao devoto que já recebeu a segunda iniciação, tendo adquirido direito a um sacerdócio.

4- “Estar para sempre no pensamento do Senhor Shiva,” é o pensamento que está sempre no Senhor sem interrupção?

É o pensamento da unidade não dual, porém mantendo a individualidade, ou seja, na relação pessoal com Bhagavan. Quando vivemos a União Mística com Shiva, nossos pensamentos e os dEle, em muitos momentos da linearidade, são unos. Ao mesmo tempo, nossa consciência transcendental está sempre pareada com a dEle, de modo a estarmos sempre no Seu pensamento e Ele no nosso.

5- Poderia se dizer que ao realizar Shiva Shakti estamos realizando toda natureza, a vida no planeta do qual pertencemos e não temos consciência, ou seja, elevando-se deste substrato e elevando-nos à verdadeira Mãe e ao verdadeiro Pai?

Shakti é a Natureza e Shiva é Deus. Portanto, ao realizar Shiva Shakti, realiza-se a vida nesse planeta e nos universos e demais regiões divinas e celestiais. Shiva Shakti é a consciência eterna, que transcende ao desconhecimento e à falta de consciência, a qual você se refere na sua pergunta. Além do que, sim, a Natureza e Deus são a Mãe Divina e o Pai Eterno de todo mundo.
 
6 – Gostaria que a Senhora esclarecesse mais sobre a interconexão do sadhana do praticante tântrico incluindo nessa busca, “travar contato (em Shiva Tantra) com as inteligências geométricas Transcendentais-Divinas de Shiva, Parvati e Ganesha”.

O sadhana do praticante do Tantra da Pessoa de Deus, conforme exposto nesse livro, deve respeitar a individualidade das Divindades. Isso porque o caminho meramente impersonalista nega a existência dElas, considerando-as como representações de energias ou dinâmicas que toda alma contém dentro de si. No caminho que propago, em bhedabheda, vivemos a unidade com as Divindades e, ao mesmo tempo, a relação com as Pessoas dElas. Travar contato com as inteligências geométricas transcendentais divinas de seres divinos significa preservar suas individualidades, não negando-as como no impersonalismo puro. É preciso ter essa verdade eterna sempre em mente no sadhana do praticante desse Tantra.

7- A Senhora poderia elucidar os significados de “função shástrica em tantra” dos novos diálogos tecidos nesse livro? E o que são os Agamas mencionados?

Agamas são escrituras tântricas, transferidas do mestre para o discípulo, sendo Shiva o Mestre e Parvati (Shakti) a discípula. Elas pertencem a várias escolas ou ramificações do Hinduísmo, havendo algumas que não estão acessíveis para leitura atualmente. Escrituras são textos shástricos, então o diálogo entre Shiva e Shri têm função de escrituras, sendo como os Agamas, conjuntos de orientações da Inteligência Original Feminina, procurando o caminho, através de Suas perguntas e das respostas dEle (de Shambhu, Shankara, Mahadeva), que elucidem o que está além da razão linear.

8 – Tendo dito tudo o que foi colocado no Shiva Tantra, uma pessoa que segue esses ensinamentos, para se libertar das teias de maya; e que não seja praticante da Religião Bhagavata da Nova Era, consegue ascender somente através destes, e com a orientação do(a) Mestre(a) Espiritual?

Sim. É possível alcançar a meta do Tantra por meio apenas do seu processo. No entanto, a Religião Neo Bhagavata o complementa e o enriquece, aumentando ainda mais as oportunidades para o avanço da consciência do(a) devoto(a) rumo à sua transcendência.

9- E o que fazer, ou estabelecer como metas de estudos para alcançar a Meta Última através deste Tantra?

Inicialmente, é preciso compreender os significados práticos de cada uma das frases, parágrafos e capítulos do livro que o descreve. Isso deve ser feito sob orientação da Mestra Espiritual que, em plena União Mística com Shiva, o trouxe para a experiência linear. Então, por meio dos caminhos por ele descrito e, se o(a) devoto(a) for Neo Bhagavata, das demais obras shástricas genéricas e específicas que dão embasamento ao Caminho da Flor de Lótus, ir se aprofundando na experiência, se autorrealizando gradual e infinitamente.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Introdução ao Shiva Tantra

Figura 1 - Ardhanareshvar (Fonte: Agung Setiawan)
 

Resumo do Livro Shiva Tantra Para Libertação Espiritual


O que fazer para que a pessoa humana possa perceber e escutar as palavras de Deus (Shiva)? Como se dirigir à pessoa humana ao se tratar da Absoluta Consciência? Pois, no que se refere as palavras de Deus, à Sua abrangência e o amor que vem Dele (de Mahadeva), o que é uma imensidão, pode-se dizer que a humanidade não os alcança, para eles não se despertou. 

Então, o que é preciso fazer para que se abram os olhos, os sentidos e os ouvidos da pessoa humana? Será que a alma já liberta para a experiência divina deve se preocupar com os rumos provenientes das imperfeições que a raça humana tomou?  

Inclusive porque na verdade as questões que envolvem uma consciência que já não está mais no meio material, estando emancipada, não são verdadeiramente inquietações, e sim, uma parte do olhar de um todo, que está absorta no Senhor que a preenche. E esta alma eterna, quando o alcança, não se engana, porque se deixa guiar por Ele (Shiva), no perfeito e infinito amor.

Pois, sendo o Senhor de todos os mundos e de todos os seres (Pashupati), é Ele quem desenha tudo segundo Sua vontade, e o que Ele quer, é se expressar para a transformação das almas. Elas que, afastadas que estão da Sua Presença, então voltam-se para o Seu amor. Afinal, é esse amor que as impulsiona a desejarem evolução e felicidade eterna. 

Este livro se fez de uma maneira espontânea, naturalmente, num diálogo que é eterno entre o Senhor (Shiva) e Sua contraparte (Shakti), os princípios masculino e feminino. Deve-se procurar entendê-lo em partes ou ao todo, percebendo-se padrões eternos contidos neste diálogo. E assim, ao se reconhecer nas verdades contidas no mesmo diálogo, sendo este verdadeiro, lógico, perfeito e imbatível, a alma se identifica, pois ele está dentro dela. Onde o Shiva Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan) se expressa para a mente humana e conduz o pensamento para a lógica perfeita e o autocontrole das ideias. Dentro do qual, a Sua orientação é a descrição do Tantra, que é traduzido através desta escrita, e que não se esgota, pois é infinita em Sua perfeição e sabedoria.

Revendo-se nele, a pessoa humana, ao direcionar-se para a busca do equilíbrio, não se abrindo às imperfeições da mente e resguardando-se, buscando, a partir de dentro dela mesma, por outras conformações, irá encontrar novas atitudes para a vida.  

Enfim, com a mente pacificada, na autorrealização através do Tantra, a compreensão se faz, levando a alma a servir a Deus (Shambhu), estando absorta em vontade de conhecê-lo. Ela entende que servir ao Senhor (Shankara) é a primeira coisa a se fazer, não havendo nada mais importante na vida da alma que o busca, pois, seu objetivo é atingir a Meta Última e gozar de uma vida plena, desfrutando da intimidade com a Pessoa Suprema (Bhagavan, Bholenath). 

Deve-se compreender, no entanto, que o buscador da luz deve procurar caminhar lado a lado de quem já atingiu o ponto mais elevado que se revela nesse diálogo com Shiva. Ponto esse que se expressa nas linhas do livro com pureza, dentro da lógica eterna concedida por Ele mesmo, para que haja a luz da transformação e, a partir dela, que se possa rumar para a libertação.


Perguntas/Respostas
Diálogo Entre Prema Sakhi e Guru Ma Shri


1-Com referência às perguntas (inquietações), no início do primeiro parágrafo, como a senhora responderia a elas: O que é preciso ser dito para que a pessoa humana aprenda a querer escutar as Palavras de Deus? O que é preciso escrever para que a pessoa humana comece a perceber-se diferente do que está sendo por enquanto?

Durante minhas buscas por tais respostas, no diálogo eterno tântrico com Shiva, concluo que não há nada que possa ser dito em definitivo para que a pessoa humana queira escutar as Palavras dEle. O que pode ser feito (e de fato estamos fazendo) é trabalhar com serenidade no coração, sempre expressando a vida interior ao lado de Shambhu, através de tudo o que se escreva e o que se faça. Deixar fluir tal interioridade por meio de tudo o que se escreva e o que se realize, de modo a que cada alma tenha o contato que consiga ter com as Palavras de Shiva (Shakti) e, na medida do seu próprio tempo, aprenda a querer escutá-Lo mais. Da mesma forma, posso escrever infinitamente o que conheço, por estar em uníssono com Mahadeva em tudo o que penso e, mesmo assim, nem todas as pessoas do mundo haverão de se interessar pelo que eu escrevo. Alguns virão, no entanto, a despertar para um aspecto ou outro do que possa estar expressando. Será o Tantra se manifestando por meio de quem desperta como parte do meu próprio despertar no uníssono com Ele (em Shiva Shakti Tantra).

2-E sobre o diálogo entre os aspectos femininos e masculino, ele (o diálogo), pode acontecer em todas as rasa (com todas as almas)? Ou é exclusivo dentro do aspecto masculino e feminino de Deus?

O diálogo que travo é específico à rasa em que estou junto dEle, ou seja, Shakti Rasa (em Madhurya Bhava). Porém, por serem as almas tipos diferentes de fagulhas dessa relação essencial do Divino Casal, todas elas podem se autorrealizar, realizando dentro de si mesmas aspectos do diálogo e/ou ao diálogo na sua íntegra, ao se autorrealizarem como o que de fato são. E o que elas são depende do tipo de rasa que experimentam na lila eterna da Pessoa Suprema (de Bhagavan). De qualquer forma, todas tais fagulhas contém dentro dos seus corações ao Paramatma, Deus como Ele pode ser reconhecido pelas almas em particular, segundo sua natureza e função na Ordem dos Universos. Sendo assim, cada um encontrará Shiva Shakti em seu coração, podendo conviver com os aspectos masculino e feminino de Bhagavan, a partir de seus próprios aspectos masculino/femininos. São o macrocosmo e o microcosmo construindo reciprocamente uma relação, que é o próprio diálogo em si, sendo compreendido e autorrealizado pela alma na sua rasa em particular.

3-No texto em que se refere às opções para diversas tendências que povoam o mundo como prática do tantra (página 10), a Senhora poderia me esclarecer mais sobre as tendências que povoam o mundo?

As opções que existem são as diferentes maneiras de interpretar o tantra, conforme se pode compreender na continuação da leitura do livro. A começar pelo Tantra da Mão Direita e o Tantra da Mão Esquerda. Além do Tantra não-dualista (Advaita), o dualista (Dvaita) e o dualista/não-dualista (Dvaitadvaita ou Bhedabheda). Além de todas as vertentes que dão conformação tão múltipla ao Shaivismo e ao Shaktismo, assim como a possibilidade de se praticar o tantra com dedicação exclusiva ou em paralelo a outras práticas religiosas e esotéricas. São infindáveis as tendências, as quais em geral costumo considerar partes de um Hinduísmo Integral.

4-E quais as opções podemos encontrar neste mundo tão carente de espiritualidade verdadeira?

Têm muitas opções para diferentes necessidades, sendo que eu propago o Sistema Filosófico-Religioso Neo Bhagavata, o qual nasce de um aprofundamento puro no diálogo desse Shiva Tantra. Só posso falar com precisão sobre ele, pois é o caminho que me conduz daqui da vida linear à experiência transcendental e da transcendental de volta para cá, em um traçado eterno, contínuo e dinâmico de vida autoiluminada em Shiva Shakti Tantra. Para saber sobre as outras opções só mesmo através de aceitação de um(a) Guru (Ma) da linha em particular que se queira conhecer e por meio dela tentar se autorrealizar. Mas garanto que algumas não conduzem para muito além da esfera meramente linear do pensamento que está enraizado na materialidade da época atual.

5-Como posso me observar melhor e mais claramente nas atividades diárias, praticando o Tantra dentro da rotina?

Buscando por Bhagavan Shiva Shakti (Ardhanareshvar) em ação direta nas suas relações existenciais, o que começa pelos significados práticos desse diálogo. Por significados práticos quero me referir àqueles que começam e terminam na maneira como eles chegaram até você. Através do ato meditativo deve dar expressão ao que o Casal Divino expressa por meio de uma relação particular com sua alma, na rasa que você está junto dEle(s). Isso não se dá em reclusão, mas na rotina diária, na qual as escolhas devem ser regidas pelo Tantra de Bhagavan, dentro da tendência na qual foi disposta, ou seja, no Sistema Filosófico-Religioso Neo Bhagavata e no Hinduísmo Integral, conforme ele é ensinado por sua Guru Ma. Esse é o meio para qualquer um que queira praticar o tantra, dentro de uma especificidade em particular da alma (sua rasa) e do caminho que ela segue (sua comunidade espiritual).

6- E Como se posicionar no mundo diante dos acontecimentos, segundo os ensinamentos do Shiva Tantra mantendo o equilíbrio? Assim como no trecho do livro que diz “quem conhece a unidade que há entre estas partes e se reconhece como uma das mesmas, se integra ao mundo e busca por equilíbrio com ele.”

No tantra tudo segue a mesma lógica, a qual é compreendida pela mente transcendental, a partir do diálogo entre Shiva Shakti. As partes funcionam em um uníssono, estando integradas na totalidade de Bhagavan. Sendo assim, mesmo os acontecimentos mais aparentemente desconexos com a perfeição suprema encaixam com os demais acontecimentos, segundo uma lógica maior, que precisa sempre ser observada e compreendida, para que haja autorrealização contínua e dinâmica no aqui-agora, que é também linear, embora a linearidade seja apenas um aspecto da experiência transcendental. Sabendo disso, os acontecimentos dessa época passarão, assim como os de outras épocas também passaram, mas a eternidade nunca passará, fazendo o equilíbrio predominar sobre o caos.

7- A Senhora poderia me falar mais sobre os padrões da humanidade que existem na Senhora e os padrões da Senhora que existem na humanidade?

Os padrões da humanidade que existem dentro do que é eterno em mim são fragmentos do todo em que eu estou para sempre configurada junto do meu Par, que é a Pessoa de Deus (Shankara). A eternidade dos meus padrões formam um mecanismo que gerencia aos demais meios de os fragmentos se encaixarem no meu todo, modificando-se continuamente, como parte de uma Obra que jamais deixa de existir. Mas os fragmentos em si não existem para sempre, o que existe é a perfeição que os atrela uns aos outros, dando uma conformação inteligente a tudo o que há na Totalidade de Shiva Shakti. Portanto, os padrões da humanidade são arquétipos, enquanto os padrões que estão em minha Verdadeira Natureza dão significados aos arquétipos, quando eles são compreendidos a partir da Mente de Deus (Bhagavan, Bholenath), sendo, portanto, atrelados uns aos outros no conjunto maior que é a Natureza (Prakrti, a Shakti) e Deus (Adi-Purusha, o Shaktiman - controlador da Shakti).

sábado, 19 de outubro de 2024

Diálogos com Shiva sobre a Experiência Transcendental

 


Shiva está expressando um jeito de ser ou humor de Deus Supremo. Afinal, “Krishna contém Hara, desde o ponto de vista Vaishnava, porém, Shiva contém Hari, desde o ponto de vista Shaiva. Na verdade, sendo Deus a Pessoa Suprema, sempre que Ele é considerado como tal, trata-se da mesma e única Absoluta Consciência que está sendo percebida, de alguma maneira, pela mente humana. Muitas vezes, esta mente, ainda em estado condicionado, pretende desconsiderar o que lhe escapa à razão, de modo que os que seguem uma religião deixam de aceitar o que outros realizam através de uma linha religiosa diferente da sua. Desta forma, fragmenta-se o pensamento, fragmentando-se também à compreensão do Supremo Significado dos nomes do Senhor[1]”.

Sendo assim, para quem o compreende dessa maneira, o Senhor se relaciona com a pessoa a Ele devotada de uma maneira em particular, a maneira que fala mais ao coração do/a devoto/a. Em um certo momento, Ele então veio a orientar-me, direcionando-me ao que precisa ser realizado ainda. Isso tem sido assim, desde que houve a necessidade de abrir-me para expressar significados transcendentais das vivências materiais e/ou o que as vivências materiais em si representam para a vida transcendental. Isso acontece para quem atinge certo estágio de espiritualidade emancipada, quando não importa se aquele/a que se emancipou se ocupa com questões materiais, já que ele/a sempre está consciente no plano divino, consciência essa que transcende as percepções que se limitam ao que os órgãos vitais conseguem captar.

Associamos tal estágio à maturidade da flor de lótus que está no coração individual de cada um, quando ela se abre, exalando doce fragrância. “Neste estágio, a alma transparece a quem a observa com atenção a condição espiritual que a caracteriza. Tal processo de abertura da flor de lótus envolve etapas de renúncia, o que conduz ao que Shri Krishna menciona quando ensina que:

 

kama-krodha-vimuktanam  yatinam yata-cetasam

abhito brahma-nirvanam  vartate viditatmanam

 

“Para aqueles ascetas, que estão livres do desejo material e da raiva, que subjugaram suas mentes e que realizaram o eu interior, a morada da liberação está presente ao redor (Bhagavad-Gita 5.26)”. Esta morada permite que possa haver acesso ao universo de rasa[2], ou seja de intimidade pessoal na relação com a Pessoa de Deus, com Krishna, Shiva (ou como Ele se chame para você). De dentro de uma condição assim, escrevi alguns livros, um dos quais foi intitulado Shiva Tantra para Libertação Espiritual – o Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan), a partir do qual, retomo aqui trechos de um diálogo que pude transcrever das minhas experiências com Mahadeva.

 

Shri – Está se referindo, então, a aprendizagem que a alma eterna tem que ter dentro do mundo material? Ensina-me se correta es­tou, Shambhu, meu eterno amor, meu Senhor. Começo a pensar sobre o que Você mesmo me falou. Seria agora o inverso do que já me ocorreu? Ou seja, assim como precisei aprender a, par­tindo de um corpo material, viver a experiência transcendental, agora tenho que estabelecer-me no mundo material enquanto alma transcendental?

Shiva – Esta é a verdade que andava tentando entender e ago­ra entende, enfim. Não há como ser feliz eternamente, enquanto alma eterna, se a alma que não pertence mais ao mundo material não aprender a dentro dele se expressar, enquanto eterna e ilimi­tada ela consegue ser, estando absorta no mundo que transcende aos limites da escala material (como ela está). Desta forma, in­verta suas percepções sobre si mesma e desenhe outras lógicas, de modo a pensar e ser quem de fato é, apesar de viver em um dos infindáveis universos externos ao Meu mundo transcendental.

Shri – Pode ser mais específico agora, dando-me mais pormeno­res sobre como isso se faz possível haver?

Shiva – Está certa sempre que controla as ideias, assumindo-Me como quem pensa o que deve pensar. O difícil tem que passar, de modo a que consiga aos seus modos reorganizar. Para que haja controle, tem que se compreender, de maneira a perceber­-me como quem pensa e a si mesma ao que está sendo pensado. Então, se deixe estar pensando o que eu penso, aceitando o que estou fazendo-lhe entender. Entenda-se por se controlar, desen­volvendo as ideias que eu precisar que venha a desenvolver.

Shri – Quando Você me oferece Suas explicações, entendo o que quer dizer. No entanto, ainda tenho muito que praticar. Portanto, abro-me agora plenamente para Suas orientações.

Shiva – Querida de Minha Eterna Suprema Alma, que transcende ao mun­do material e ao que é meramente pertencente ao universo da vida individual, ouça-Me e pratique o que tiver que praticar, a fim de a Mim mesmo compreender. Compreendendo-Me, irá entender-se com mais clareza, afinal, é a mesma Contraparte que em unidade plena Comigo eternamente está. Para entender­-se assim, veja-Me agindo em tudo o que a faz haver; e para se ver sendo o que eu faço que haja por meio de seu jeito de estar, aceite-se sendo o que eu a faço ser. É difícil de praticar ao que eu digo?

Shri – A dificuldade penso estar na maneira de interagir com este mundo material, o qual por muito tempo vi como sendo impossível de controlar. Agora vejo-o no controle, mais, ainda preciso aumentar isso em mim, de modo a que este novo jeito de ao mundo ver sobrepuje o jeito que havia antes de melhor Lhe compreender. O que me instrui, então, a procurar perceber?

Shiva – Instruo-lhe a amar ao mundo do jeito que ele se faz, pois, seu amor está em Mim e o mundo também está. Entenda-se e a Mim como o que faz ele (o mundo) haver, de modo a ver-nos travando interações amorosas em tudo o que na forma dele se expõe. Ainda mais claramente irá a tal mecanismo poder ver nos eventos que a envolvem diretamente e naquilo que precisa mais diretamente enquanto pessoa pensar. Pense-se, então, estando em meu meio de me manifestar e ao seu modo de se expressar em Mim como o que causa o mundo da maneira em que ele está e aos mecanismos que fazem ele ser o que ele é.




[1] Do livro Religião Bhagavata da Nova Era, Shri Krishna (com Shri Krishna Madhurya), Sétimo Raio (2014, p. 25). Trata-se de uma obra básica para a expressão Neo Bhagavata do Hinduísmo Integral, que estudamos, praticamos e propagamos.

[2] Do livro Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus, de Shri Krishna Madhurya (2016).

sábado, 8 de junho de 2024

Shiva não é apenas um deus, Ele é o Deus Supremo

 


Shiva é uma divindade consagrada do Hinduísmo e de outras linhas de espiritualidade e religiosidade no ethos da Nova Era[i]. Alguns dos seus devotos o percebem como o Deus Supremo, sendo a esta maneira de compreendê-lo que o presente artigo se refere. Portanto, Shiva é aqui tratado em uma perspectiva religiosa. Nesse sentido, é importante notar que, para os Shaivas monistas (na tradição advaita), “quem reverencia, o objeto reverenciado e a reverência são absolutamente a mesma coisa – Shiva[ii]”. Mas, para os Shaivas dualistas (na tradição dvaita), Deus, a alma e o mundo são eternamente separados[iii]. Tem-se aqui duas maneiras de compreendê-lo.

Há, no entanto, uma terceira compreensão, a do shaivismo da tradição vishistadvaita, segundo a qual, Shiva é imanente no universo e, ao mesmo tempo, transcendente a ele. Shiva não nasce como um mortal, mas aparece em forma visível sempre que é adorado pelos devotos. A verdadeira natureza da alma (jiva) é estar em união com Shiva, mas, mesmo em estado liberado a alma é diferente de Deus. Porém, ela compartilha da natureza de Shiva, sendo semelhante a Ele. No entanto, tal relação não significa não-diferença, significa não separação[iv].

Dentro de tal relação entre diferentes é que se desenvolve uma vida em comum com Shiva. Para exemplificar, me refiro à madhurya (doçura conjugal), um estado de união com Deus que mais comumente vem sendo associado à relação pessoal com Krishna. Só que na concepção da Pessoa Suprema a que estou me referindo, Krishna Shiva confluem em Harihara, embora existam muitos devotos no mundo que prefiram adorar apenas um dos dois como sua divindade maior.

A confluência de Vishnu (Krishna) e Shankara, a que me refiro, aparece em um templo de Karnataka, Índia – Sri Sankaranarayana Temple[v]. De dentro dela, percebo que "Deus se manifesta na forma de uma Pessoa Suprema, a qual se chama Krishna, e tem muitos nomes. É possível compreendê-lo, percebê-lo ou vê-lo em alguma outra forma (como Harihara), ou através de algum outro nome (como Shiva), mas, Ele é sempre o mesmo [vi]”. Sendo assim, "o Senhor Shiva é o Absoluto Senhor e sua Luz nos ilumi­na sempre, bastando olhar para ela com atenção e vê-la, para que a vida se traduza, de modo a esclarecer a mente e o coração de quem olha e vê[vii]”.



Notas:

[i] O ethos da Nova Era é um conjunto de crenças e práticas que têm por finalidade a busca por elevação espiritual, sem associação a algum tipo de pertencimento religioso, dentre as quais, algumas já se tornaram aceitas pela sociedade em geral (GUERRIERO et al., 2020).

[ii] Andrade (2012, p. 269) assim o descreve: Shiva é o grande e o único “ator/agente”. Infinita fonte criativa de realidade, Shiva, ens realissimo – se revela incapaz de conter em si a criação da realidade; como Kali Ma, ele vomita a realidade: esse jorro de atividade criativa é comparado ao de um artista que cria por pura necessidade, sendo impossível não o fazer. Esse ato seminal criativo é visto como um transbordar, uma superabundância de ser, uma felicidade intoxicante, uma alegria infinita. Essa sua “alegria” (amoda) manifesta-se como “brincadeira” (krida), “jogo, passatempo”, principalmente em suas cinco principais atividades, já mencionadas, uma das quais consiste exatamente em seu próprio “esquecimento-de-si”, sua alienação, escondendo-se, ocultando-se (vilaya) em sua própria criação – a bem dizer escondendo-se no próprio enredo das coisas, para que seja possível criar as condições de possibilidade da jornada dos adeptos em busca de Shiva que, como em verdade o/a buscador/a descobre no final da jornada, é a sua própria natureza mais recôndita (anugraha,“re-velação”). Shiva, portanto, “se dissolve” (klpta), “arranja-se, dispõe-se” como o Todo, como a realidade, escondendo-se no e se revelando como o real.

[iii] Explicação de Bodhinatha Veylanswami (2016), disponível em: https://www.himalayanacademy.com/view/bd_2016-12-16_path-to-siva_lesson-9_commentary. Acessado a 9 out, 2021.

[iv] Assim é a compreensão de Shiva na linha de Tirumular da escola Saiva Siddhanta, que é chamada Shuddha Saiva Siddhanta. As informações foram obtidas de Mahadevan (1953).

[v] O templo fica localizado no vilarejo de Shankaranarayana, no Distrito de Udupi, Karnataka, a 25 Km do Mar Arábico. Mais informações podem ser encontradas em http://shankaranarayana.org/.

[vi] Trecho do livro de minha autoria, no qual transcrevo alguns raciocínios que vêm do pensamento do próprio Shri Krishna. A obra é intitulada Religião Bhagavata da Nova Era, Sétimo Raio, 2014.

[vii] O livro é Shiva Tantra para Libertação Espiritual – o Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan), Editora Sétimo Raio, 2017. Nesse livro, transcrevo sete diálogos que Shiva estabeleceu comigo.

 

Referências

ANDRADE, C. B. O monismo Shivaíta da Caxemira e sua inserção no debate filosófico Indiano. Numen: Revista de Estudos e Pesquisa da Religião, v. 14, n. 2, p. 261-280, 2012.

GUERRIERO, S.; LEITE, A. L. P.; BEIN, C.; MENDIA, F.; STERN, F. L.; MARTINS, L. Concepções de saúde, cura e doença no ethos Nova Era: um estudo piloto entre Terapeutas Holísticos de São Paulo e Florianópolis. Caminhos, v. 18, n. 1, p. 106-119, 2020.

MAHADEVAN, T. M. P. The idea of God in Saiva Siddhanta. Disponível em: https://shaivam.org/articles/the-idea-of-god-in-saiva-siddhanta. Acessado em 9 out, 2021.

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