sexta-feira, 18 de abril de 2025

SHIVA

 


Shiva é uma dádiva que se fornece por Ele mesmo para o ser humano de cada uma das épocas ter consciência de si e de Deus. Ele se faz compreender a partir de diferentes ângulos de visão, porém, dentre tais ângulos, apenas os que se referem à mais plena compreensão dEle serão aqui considerados.

A plenitude da compreensão de Shiva está na absoluta consciência, a qual só pode ser alcançada através do amor puro e da perfeita devoção. Então, como é apresentado em Shiva Tantra para a Libertação Espiritual (2017):

“Assim como em Ardhanareshwar, a condição andrógina de Shiva (em Shakti) e/ou de Shakti (em Shiva), há União Mística perfeita, a alma in­dividual atinge sua bem-aventurança ao encontrar dentro de si o que a leva a realizar aquela mesma condição em Bhagavan, in­dependente da identidade que Ele tenha para quem o busca. Ao realizar a União Mística dos dois princípios opostos e comple­mentares originais, então, a pessoa humana realizará o equilíbrio entre ambos os princípios dentro de si”.

Bhagavan é a Pessoa de Deus, é Shiva, Shankara, Mahadeva. A União Mística é a perfeita maneira de existir, com clareza de consciência eterna e, portanto, ininterrupta. Quando a alma atinge tal estado de autocontemplação, ela conhece Shiva. Desejamos falar sobre Ele, a Shakti e a alma em estado de sat-cit-ananda - felicidade eterna na vivência da suprema verdade.

Se quiser nos conhecer melhor, entre em contato através do e-mail srikrishnamadhurya@gmail.com.

 

Veja também:

Mística Luz dos Jardins de Krishna

https://jardinsdekrishna.com/


Shri Krishna Madhurya

http://srikrishnamadhurya.blogspot.com/

 

Shiva Tantra e o Equilíbrio do Corpo

 


Resumo do Livro ShivaTantra para Libertação Espiritual

 

Essa parte do livro deixa claro que não tem como comparar a experiência sexual material ao estado de beatitude absoluta (ananda), que há na unidade dos princípios masculino e feminino, sendo esta, no entanto, a base da inspiração para quem busca pelo sexo perfeito na linearidade. Tal união está muito além do que possa ser alcançado pela mente humana, sendo inacessível para quem vive a experiência cotidiana deste mundo sem ter consciência transcendental.

A Suprema Pessoa, Shiva, inclusive diz: “(...). A sensação da perfeita união transcendental só existe quando quem é efeito é também causa do que, por pretender se unificar, enfim, através de duas partes, se fez perfeição. Só que tal perfeição é possível apenas quando o que se une é igual e diferente ao mesmo tempo, sendo que o que difere entre ambas as porções as torna idênticas em sensação e mútuas em interação. (...).”

Assim sendo, tal perfeição só é vivenciada em Shiva Shakti, isto é, na unidade do aspecto masculino e feminino de Deus, em que, Mahadeva em sua Totalidade vivencia a Totalidade de sua Shakti, Parvati. Dando-se trocas de sensações em suas completudes, vistas e sentidas apenas por suas completas naturezas.

Sendo a alma humana uma dimensão personificada do masculino e feminino, ela também pode experimentar a mesma sensação de unidade com o todo-Brahman.  Mas somente Shiva e Parvati, as Eternas Pessoas, podem realizar através de suas recíprocas experimentações, o que a jiva (alma individual corporificada) jamais pode fazer, exceto se ela constituir conscientemente esse Todo integrado.

Então, não há como comparar o prazer sexual corporal físico material e o prazer da reciprocidade entre os princípios masculino e femininos, que se dá em Shiva Shakti, Radha Krishna, Lakshmi Narayana, a menos que o prazer seja vivenciado a partir da consciência do Eterno Casal. Só quem desconhece o verdadeiro significado vivenciado em sat-cit-ananda se permite fazer tal comparação com o sexo meramente material, do que aqui é ensinado, e que, somente pelo componente físico-corporal, não pode ser alcançado.

E é importante compreender que através do Tantra podemos nos aproximar mais da refulgência de Deus (Brahman), e partindo da visão Neo-Bhagavata, da Pessoa de Deus (Bhagavan). De modo que, através de tal estado de equilíbrio, a alma humana pode atingir bem-aventurança quando encontra dentro de si os princípios masculino e feminino, em União Mística. Ao realizar o equilíbrio dos princípios masculino e feminino, ela experimenta enfim o amor puro por Ele (prema), o que, na relação pessoal com a Pessoa Suprema, permite à alma experimentar um dos maiores prazeres, o qual é impossível de ser comparado ao orgasmo corporal meramente material.

Assim sendo, apenas uma alma que corporifica a Eterna Consorte (uma encarnação dEla), quando alcança a Pessoa de Deus (Shiva), vivencia o rito perfeito de intercâmbio entre os aspectos masculino e feminino. Esse rito é a origem, meio e fim da busca e do culto tântrico. Afinal, a alma da pessoa humana pode ter vislumbres dessa relação de intimidade, dependendo de atingir um estado de equilíbrio entre corpo, amor e devoção a Shiva Shakti.

Esse amor verdadeiro precisa ser cultivado através do conhecimento sagrado, o qual liberta do desejo meramente carnal pelo gênero oposto (ou por pessoas do mesmo sexo). Sendo assim, para quem prefere acreditar que a sexualidade é um caminho para a elevação espiritual, compreenda-se que na verdade ela é um reflexo do que se pode adquirir através do contato íntimo com a consciência de Shiva Shakti. Mas, esse é um tipo de experiência que, na Era de Kali Yuga, não está acessível para a mente linear condicionada do momento.

Assim, o Senhor Shiva coloca: “Não se quer dizer com isso que não exista a possibilidade de uma alma realizar a União Mística que se expressa através do que o mundo linear entende como sendo o ápice do prazer atingido entre duas pessoas, mas, fazer-lhes compreender que a condição humana só se torna passível de atingir tal experiência quando alcança Minha Unidade enquanto Pessoa em Consciência (e/ou atitude) do Onisciente que em tudo está. (...).”

Sendo assim, o Tantra é um caminho a ser guiado tanto pelos sentidos físicos como através das percepções espirituais, sendo voltado à mais elevada espiritualidade, a ser alcançada por meio de autorrealização. Quando ênfase é dada aos caminhos tântricos que acontecem através dos sentidos físicos, pode haver reeducação sensorial e a superação das forças primitivas corporais, que levam o ser humano a buscar por prazer meramente carnal. Quando o Tantra é voltado à espiritualidade profunda, ele conduz à libertação das teias da materialidade e ao avanço espiritual. Ambos se complementam, por coexistirem na vivência plena e perfeita do Supremo Casal (Shiva Shakti).

 

Perguntas/Respostas

Diálogo Entre Prema Sakhi e Guru Ma Shri

 

1-Sempre houve essa comparação do Tantra puramente espiritual com a experiência sexual material? A Senhora poderia dizer como essa comparação, digamos assim, teve início?

Essa comparação é natural que aconteça quando a alma humana se percebe como espiritual e, ao mesmo tempo, entidade corporal. Isso porque, conforme explicado no texto acima, ambas as experiências são complementares no Todo integrado, que Shiva Shakti é. No entanto, com o aparecimento da alma individual corporificada (jiva) no mundo material, em meio às teias de maya (ilusão), há a tendência dela se perder da experiência mais plena espiritual, buscando por prazer apenas através dos sentidos físicos. Sendo assim, essa comparação se torna existente a partir do momento em que, vivenciando a existência mundana, a jiva retoma aspectos de sua consciência espiritual original, sendo inspirada pela perfeita União Mística do Supremo Casal. Pode-se dizer que esse tipo de comparação é para sempre existente nos ciclos de Eras, os quais contém o aparecimento das almas corporificadas, causando separação aparente delas para com sua Fonte eterna, o que, por sua vez, as estimula a desejar voltar à experiência do Todo integrado.

 

2-Sendo assim, a Senhora poderia esclarecer mais ao que o Senhor Shiva descreve da seguinte maneira:

“A sensação da perfeita união transcendental só existe quando quem é efeito é também causa do que, por pretender se unificar, enfim, através de duas partes, se fez perfeição.”

Isso significa que a perfeita união transcendental só existe no âmbito da Consciência de Shiva Shakti, que é causa e efeito, ao mesmo tempo, do desejo de se relacionar enquanto Supremo Casal.

 

5-É muito difícil para a mente humana alcançar essa completude, então a Senhora poderia descrever um pouco o que seria essa sensação de completude na unidade de Shiva Shakti?

Não tem como descrever em palavras lineares sensações que estão além das possibilidades da mente humana. Por esse motivo, como eu poderia descrever por meio de um texto escrito para a mente linear o que somente vivencio a partir da União Mística? O que posso assegurar é que se trata de uma sensação eterna, reconhecível como a única possibilidade de se viver com felicidade verdadeira (sat-cit-ananda), para quem a experimenta. Ela é a vida e seu significado, o porquê da existência e o destino dela.

 

6-E sobre a “sensação da unidade com o Todo, Brahman” que a alma humana pode ter. Como chegar a essa experiência, ou seja, encontrar dentro de si esta condição em Bhagavan, a Senhora poderia esclarecer mais sobre esse assunto?

Existem diferentes escolas e/ou vertentes filosóficas religiosas que ensinam o buscador a chegar a essa experiência. No sistema Neo Bhagavata, que eu ensino, existem Quatro Pilares, os quais precisam ser trabalhados de maneira integrada. O Shiva Tantra da Pessoa de Deus é um deles, sendo os demais: a Religião Bhagavata da Nova Era, o Caminho da Flor de Lótus e a Escola Mìstico Religiosa da Ordem de Zadkiel. O(A) devoto(a) precisa aprender/praticar o Caminho da Flor de Lótus, sob orientação da Mestra Espiritual (Guru Ma Shri), procurando eliminar as imperfeições do ego e praticar hábitos mais condizentes com padrões superiores da consciência. Será dessa forma que ele/a pode ir localizando dentro de si tal condição existencial (na União Mística transcendental).

 

7-Para realizar o equilíbrio dentro de si, da União Mística dos dois princípios, pode ocorrer com qualquer alma que busca através do Tantra sua elevação espiritual? A elevação, a transcendentalização, é sempre por meio da Eterna Consorte do Senhor? A Senhora poderia esclarecer mais sobre esse rito?

Não vejo a União Mística como algo que possa ocorrer com qualquer alma que busca através do Tantra por elevação espiritual. Algumas não conseguem alcançar o que buscam, mesmo após inúmeras vidas sucessivas tentando. Mas, a elevação, através da transcendentalização da existência, por meio do Tantra, só pode acontecer através da elevação da vibração da Kundalini individual até o ápice dela, onde ela consegue se perceber na diversidade e, ao mesmo tempo, na unidade com a Shakti Divina (Parvati), sem perder sua identidade específica na mesma relação, apesar de vivenciar a unidade com Deus (e com a Deusa). Ou seja, quando a busca pela experiência transcendental se dá por caminhos tântricos, sim, é preciso autorrealizar-se por meio de sua própria união mística interior (no seu masculino/feminino específico), realizando o significado prático da União Mística em Shiva Shakti (Masculino/Feminino Absoluto). Nesse caso, sempre haverá o rito da ascensão espiritual do aspecto feminino da alma individual até o ponto onde ela se relaciona com a Pessoa Eterna da Shakti, quem, por Sua vez, existe para sempre no Todo integrado com Shaktiman (Shiva).

 

8-E finalmente, com essas palavras do Senhor Shiva “Se não há, portanto, o que dentro de si manipular para a Mim mesmo alcançar, certamente não haverá a potencialidade de, ao que é meramente humano, poder completamente transcendentalizar.” O que a Senhora deixaria registrado aqui em torno do quanto o Tantra pode contribuir à transcendência dos sentidos e aos caminhos que conduzem à alta espiritualidade?

Shiva quer dizer com essa frase que, sem a consciência interior, não há como alcançá-Lo, pois, Tantra é acima de tudo um processo de autorrealização que parte da transcendência dos sentidos para que se possam atingir patamares mais elevados de espiritualidade. Quando tocamos o mundo material, estando conscientes de nosso Ser Divino interior, os sentidos materiais se espiritualizam, de modo que a vida cotidiana em si se transforma em um ato tântrico. Mas, sem tal consciência, não existe a possibilidade de atingir o ápice da experiência que o Tantra ensina, ou seja, é impossível, através do sexo carnal, viver a União Mística do Supremo Casal, sem que exista unidade do ser individual no Todo integrado que Shiva Shakti é.

domingo, 9 de março de 2025

Shiva Ashtottara Shatanamavali


 

108 Nomes de Shiva


Para ouvir a recitação dos 108 nomes de Shiva na forma de stotram:
https://www.youtube.com/watch?v=52f9UR87UMk

 
https://www.youtube.com/watch?v=xCmZdL_MZSc&t=28s

Por stotram compreenda-se uma reverência que se faz a uma Deidade em particular, sendo que no caso do Shiva Ashtottara Shatanamavali, trata-se de um conjunto de versos que reverenciam 108 nomes de Mahadeva. Eles prestam “Reverências àquele que”:

om sivaya namah (é sempre puro)

om mahesvaraya namah (é o Supremo Senhor) [1]

om sambhave namah (concede prosperidade)

om pinakine namah (transporta o arco divino nas mãos) [2]

om shashishekharaya namah (é o Deus com a lua crescente na cabeça) [3]

om vamadevaya namah (é agradável e auspicioso) 

om virupakshaya namah (tem olhos oblíquos) [4]

om kapardine namah (tem cabelos densamente emaranhados)

om nilalohitaya namah (tem as cores vermelha e azul)

om sankaraya namah (concede felicidade e prosperidade)

om sulapanaye namah (transporta um tridente) [5]

om khatvangine namah (transporta uma maça serrilhada) [6]

om visnuvallabhaya namah (é querido por Vishnu)

om shipivistaya namah (emite raios de Luz ao Seu redor)

om ambikanathaya namah (é o Consorte de Ambika, Parvati)

om srikanthaya namah (tem pescoço glorioso)

om bhaktavatsalaya namah (tem inclinação por Seus devotos)

om bhavaya namah (é a existência em Pessoa)

om sharvaya namah (remove todos os problemas)

om trilokeshaya namah (é o Deus de todos os três mundos)

om sitikanthaya namah (tem pescoço esbranquiçado) [7]

om shivapriaya namah (é o Amado de Parvati)

om ugraya namah (tem ferocidade)

om kapaline namah (veste um colar de crânios) [8]

om kamaraye namah (é o inimigo de Kamadeva) [9]

om andhakasura sudanaya namah (matou o demônio Andhaka) [10]

om gangadharaya namah (sustenta a Deusa Ganga em Seus cabelos)

om lalatakshaya namah (tem um olho na testa)

om kalakalaya namah (é a morte da morte)

om krpanidhaye namah (é o tesouro da compaixão)

om bhimaya namah (tem forma terrível)

om parashuhastaya namah (carrega um machado em uma das mãos) [11]

om mrgapanaye namah (carrega um veado em uma das mãos) [12]

om jatadharaya namah (tem tranças nos cabelos)

om kailashavasine namah (é nascido em Kailash) [13]

om kavachine namah (possui uma armadura)

om kathoraya namah (tem um corpo forte)

om tripurantakaya namah (matou Tripurasura) [14]

om vrshankaya namah (tem uma bandeira com o símbolo do touro)

om vrshabharudhaya namah (cavalga um touro) [15]

om bhasmoddhulita vigrahaya namah (aplica cinzas sobre o corpo) [16]

om samapriaya namah (ama com igualdade)

om svaramayaya namah (vive nas sete notas musicais)

om trayimurtaye namah (tem a forma dos Vedas) [17]

om anishvaraya namah (não tem outro Senhor)

om sarvajnaya namah (tudo sabe)

om paramatmane namah (é a alma de todos/as)

om somasuryagni lochanaya namah (tem olhos na forma de lua, sol e fogo)

om havishe namah (é a saúde na forma de oferenda)

om yajnamayaya namah (é o Arquiteto de todos os rituais)

om somaya namah (tem em si a forma de Uma, Parvati) [18]

om panchavaktraya namah (é o Deus das cinco atividades)

om sadasivaya namah (é o Eternamente Auspicioso)

om visvesvaraya namah (é o Deus do universo)

om virabhadraya namah (é violento e, ao mesmo tempo, pacífico)

om gananathaya namah (é o Deus dos Ganas) [19]

om prajapataye namah (é o Criador dos Prajapatis) [20]

om hiranyaretase namah (emana almas que reluzem)

om durdharsaya namah (é inconquistável)

om girishaya namah (é o Deus das montanhas) 

om giri-shaya namah (é o Deus que repousa nas montanhas)

om anaghaya namah (é puro)

om bhujanga bhushanaya namah (é o Senhor adornado com serpentes de ouro) [21]

om bhargaya namah (elimina os pecados)

om giridhanvane namah (tem como arma uma montanha) [22]

om giripryaya namah (é afeiçoado por montanhas)

om krttivasase namah (veste roupas de couro animal) [23]

om purarataye namah (vive em ambiente silvestre)

om bhagavate namah (é o Deus das glórias e da prosperidade)

om pramathadhipaya namah (é Deus mesmo dos fantasmas e demônios) [24]

om mrtyunjayaya namah (venceu a morte)

om suksmatanave namah (é mais sutil que o átomo)

om jagadvyapine namah (pervade o universo)

om jagadgurave namah (é o Guru de todos os mundos)

om vyomakesaya namah (tem cabelos que esvoaçam os universos)

om mahasena janakaya namah (é o pai de Mahasena) [25]

om charuvikramaya namah (é o guardião dos peregrinos religiosos)

om rudraya namah (é Rudra) [26]

om bhutapataye namah (é o Senhor do Bhutas) [27]

om sthanave namah (é o Pilar firme e imóvel)

om ahirbudhnyaya namah (contém em si a Kundalini) [28]

om digambaraya namah (tem o cosmos como vestimenta)

om astamurtaye namah (tem oito formas) [29]

om anekatmane namah (tem uma alma e muitas formas)

om sattvikaya namah (abençoa os que promovem sattvika) [30]

om shuddhavigrahaya namah (é o Senhor da alma pura)

om shashvataya namah (é eterno)

om khandaparashave namah (corta o desespero da mente)

om ajaya namah (não tem limites e promove todas as glórias)

om papavimochanaya namah (libera dos aprisionamentos)

om mrdaya namah (mostra apenas misericórdia) 

om pashupataye namah (é o Senhor de todos os animais) [31]

om devaya namah (é o Deus de todos os deuses)

om mahadevaya namah (é o maior dos Deuses)

om avyayaya namah (é aquele que não está sujeito a mudanças)

om haraye namah (é o próprio Senhor Vishnu) [32]

om bhaganetrabhide namah (devolveu a visão, dando olhos coerentes a Bhaga) [33]

om avyaktaya namah (é sutil e invisível)

om daksadhvaraharaya namah (destruiu o sacrifício de Daksha) [34]

om haraya namah (abstrai o cosmos e destrói a escravidão)

om pushadantabhide namah (puniu Pushan) [35]

om avyagraya namah (é firme, estável e inabalável)

om sahasrakshaya namah (tem formas ilimitadas)

om sahasrapade namah (está de pé e caminhando em todo lugar)

om aparvagapradaya namah (é aquele que concede tudo e pega de volta)

om anantaya namah (é infinito)

om tarakaya namah (é o libertador da humanidade)

om paramesvaraya namah (é o Deus que está em todos os corações)


iti srisivaasttotarasatanamavalih samapta

 

Notas

1  Do sânscrito maha = grande, maior; e isvhara = Senhor Supremo.

2 Em referência ao arco dEle, chamado pinakina, o mesmo arco que Rama levanta, amarra com a corda e quebra, ganhando o direito de se casar com Sita no seu swayamwar.

3  Shiva é o Senhor de Chandra (Soma), a divindade da lua, sendo o controlador dos ciclos da natureza e da alma, cuja luz está refletida nesse que é um ornamento das tranças de Mahadeva.

4  Virupaksha é Shiva com olhos oblíquos e/ou abertos para a eternidade, tenha ela forma ou não.

5  O Tridente (trishula) é arma de Shiva, que cria/sustenta/destrói tudo.

6 Em referência à khatvanga, uma maça, que é arma e instrumento tântrico e divino.

7 O pescoço de Shiva adquire cor azul-esbranquiçada depois que Ele extrai o halhal do Oceano de Leite, o qual aparece durante o batimento de suas águas pelos semideuses e demônios.

8 O colar de crânios mostra que Shiva é o Senhor dos ciclos de nascimento e morte.

9 Em referência ao ato de Kamadeva tentar interromper a meditação de Shiva, sugestionando Lhe desejo, paixão e sentimentos luxuriosos. Mahadeva ensina que é preciso vencer tais tendências.

10 O demônio Andhaka é mencionado no Shiva Purana, sendo um filho de Shiva, que nasce cego e é criado por demônios. Mahadeva o vence em uma feroz batalha, quando Andhaka tenta raptar Parvati.

11  Shiva com quatro braços, na forma de Chandrashekara, carrega um machado (parashu) em uma das mãos superiores e um veado (mrig) na outra. As outras duas mãos inferiores oferecem proteção (abhaya) e bençãos (varada).

12  Ver nota anterior.

13  A parte material de Kailash está localizada nos Himalaias tibetanos, portanto, em território da China atualmente. É um ponto de peregrinação de devotos, por ser a morada de Shiva.

14  Tripurasura são três demônios, filhos de Taraka, que se tornaram invencíveis, após severas tapasya (penitência). Eles receberam bençãos de Brahma que só poderiam ser vencidos por Mahadeva, porque acreditavam que, por serem devotos dEle, estariam protegidos. A benção incluía três palácios, que se tornaram suas residências, os quais foram destruídos pela Pashupatashtra (arma divina) de Shiva. Mahadeva só tomou a iniciativa por ter sido intensamente solicitado pelos semideuses e a destruição de Tripurasura mostra o poder do bem sobre o mal.

15 O touro é Nandi, vahana (transportador) de Shiva.

16  Shiva aplica cinzas (vibhuti) sobre o corpo, o que, no Shaivismo, é compreendido como ritualística de renúncia aos prazeres e padrões de beleza mundanos.

17  Os Vedas são quatro: Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda. Eles reúnem o conhecimento sagrado, escrito na língua dos Deuses, o Sânscrito.

18  A eterna Consorte de Shiva, Uma, Parvati, Durga, a Adi-Shakti (Deusa primordial).

19  Ganas são os atendentes divinos de Shiva, que vivem em Kailash e tem Ganesha como líder.

20  Prajapatis são os procriadores da humanidade, tendo origens de Brahma (o Deus da criação), eles têm como função dar origem à sociedade humana, através de suas progênies.

21  Mahadeva usa serpentes como ornamento, pois é o Senhor delas, o controlador do medo e da morte; e o protetor dos devotos contra qualquer tipo de perigo.

22  Mais uma referência à morada de Shiva, que é Kailash, e aos Himalaias, portanto.

23  As vestes de couro animal são sinais da renúncia, que Shiva exemplifica e promove.

24  Em referência aos asuras (demônios) e bhutas (fantasmas), que tomam abrigo de Mahadeva.

25  Mahasena é Kartikeya, também chamado Murugan (o irmão de Ganesh).

26  Rudra é um dos nomes de Shiva.

27  Ver nota 24.

28  Do sânscrito Ahi = serpente; e budhna = fundação do mundo.

29  Oito formas ou atributos são associados a oito nomes de Shiva: Rudra, Sharva, Pashupati, Ugra, Bhima, Bhava, Mahadeva e Ishana.

30  Sattvika é a execução das coisas no modo da bondade, compondo a ação no conjunto de três modos da natureza material – Rajas (paixão), Sattva (bondade) e Tamas (ignorância).

31  Pashupati é outro nome de Shiva, que faz referência à sua condição de Senhor dos animais e de todos os demais seres viventes.

32  Uma referência a unidade que existe entre Shiva e Vishnu, em Harihara.

33  Bhaga era associado de Daksha, o pai de Sati. Ele foi cegado por Virabadhra, nascido de Shiva irado, destinado a destruir a arena do sacrifício de fogo daquele prajapati. Bhaga buscou o abrigo de Mahadeva, adorando-o com devoção e ganhando de volta a visão, porém agora translúcida.

34  Daksha, o prajapati, pai de Sati. Tornou-se arrogante e inimigo de Mahadeva. Promove um grande sacrifício de fogo, para o qual convida Brahma, Vishnu e os semideuses, deixando Shiva de fora. Sati abandona o corpo, incinerando-se, pelo poder do yoga. Shiva irado promove a destruição da arena e de Daksha, através do aparecimento de Virabadhra.

35  Pushan é o esposo da filha de Surya (a divindade do sol). Ele perdeu os dentes no confronto com Virabadhra, durante a destruição da arena do sacrifício de fogo. Ver notas 33 e 34.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Conceito de Shiva Tantra


 

Resumo do Livro Shiva Tantra para Libertação Espiritual


Podemos conceituar Shiva Tantra como sendo uma filosofia, uma prática e um conjunto de tratados e de conhecimentos, que abrange o ser humano em suas dimensões. Ele se expressa na adoração a Shiva Shakti, tendo como Meta a União Mística com Deus. Em torno disso, o Senhor Shiva explica que União Mística é um estado de completa conclusão, uma síntese; é estar para sempre junto do Seu pensar, onde deixar-se permanecer, permitindo-se sentir o que Ele sente. Ele diz: “sem realizar-me enquanto tal, não há como experimentar a verdadeira forma de União Mística que na eternidade se faz (p. 16)”.

Dentre os caminhos para essa prática, existe a iluminação pessoal através do despertar da kundalini, que é uma fagulha da energia feminina de Deus (Shakti). Quando a alma busca por liberação, tal fagulha, que está ancorada na base da coluna, desperta, ascendendo ao chakra da coroa. Esse movimento acontece quando a kundalini se liberta, realizando-se na sua Fonte (Shaktiman), que é Shiva, a Consciência Absoluta.

Tal busca por liberação se dá através da prática espiritual, com uso de mantras, yantras e rituais, tendo como objetivo a unidade pessoal com o Senhor, não apenas uma fusão com a imanência impessoal dEle, embora também seja uma fusão. O que acontece na verdade é a autorrealização dentro de si da essência masculina - a fagulha de Shiva -, que se completa com a realização da porção feminina no íntimo da pessoa humana (a kundalini).

Dessa forma, no Shiva Tantra, o corpo é visto como uma oportunidade para a busca da verdadeira natureza do ser, com a elevação da consciência e não como obstáculo. Sua prática pode estar associada a outras práticas espirituais e esotéricas, como complemento ao processo de avanço espiritual. Mas, é importante entender que Tantra não se refere a apenas uma troca entre corpos em uma relação sexual, embora mesmo isso possa levar à União Mística entre matéria e espírito, a forma e a consciência, a alma e sua Fonte.

Por estar em cada um dos mecanismos da vida, o Tantra pode ser vivenciado através de um leque de oportunidades. Esse livro aborda uma visão dualista-não dualista (bhedabheda) da União Mística. Propomos que o tantra seja buscado em qualquer evento da natureza ou mecanismos da vida, mas também pela busca de uma relação pessoal com Deus (Mahadeva). Tal visão ilumina o mundo, esclarecendo a consciência, conduzindo a pessoa humana à superação da ignorância (avidya) e a libertação das teias de maya (ilusão material).

Desenvolvendo-se em torno de tais questões, o livro Shiva Tantra apresenta conteúdos inéditos, caracterizando uma Ciência Místico-Transcendental, a qual também se expressa no Religião Bhagavata da Nova Era (2014), em Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus (2016), dentre outras obras. O Shiva Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan) expõe diálogos do Senhor Shiva com sua Shakti, na pessoa de Shri Krishna Madhurya, para que, sob Sua orientação, o leitor estudioso deste Tantra possa colocá-lo em prática.
Então, com essa prática espiritual, pode-se desenvolver o equilíbrio do corpo e a transcendência da mente, a partir de elementos como: meditações, símbolos sagrados, sons e rituais. Além do que, os diálogos, circunstanciados por meio das Consciências feminina e masculina (de Shiva Shakti), levam o praticante a travar contato com o absoluto Senhor (Mahadeva). Este Senhor a todos ilumina e deseja expressar o Tantra desse jeito para as nossas vidas aqui-agora.



Perguntas/Respostas
Diálogo Entre Prema Sakhi e Guru Ma Shri


1 – Para começar, a Senhora poderia falar mais sobre o “conjunto de tratados e conhecimentos” que compõe o Shiva Tantra, o qual se baseia essencialmente na adoração a Shiva Shakti e ao qual a obra se refere?

O conjunto de tratados e conhecimentos é composto por todos os saberes e práticas acumulados pela humanidade que, de alguma forma, contribuem com a compreensão da complementaridade que existe entre a matéria e o espírito, a forma e a consciência, a Shakti e Skaktiman. Esse conjunto é infindável, tendo origens diversas, manifestando-se em todas as regiões do globo e em quase todas as culturas que já existiram ou ainda existem.

2 – Na obra a senhora fala que a “libertação desta última está na realização da união dela com sua Fonte (Shaktiman) ou Shiva, a Consciência Absoluta.” Então com mais detalhes, quais os passos para autorrealização nesta ciência do Shiva Tantra através da ascensão da kundalini?

Seguindo a rota do próprio livro, para começar, é preciso que haja equilíbrio do corpo e transcendência da mente. Isso porque só existe União Mística perfeita quando a pessoa realiza os dois princípios opostos e complementares (masculino/feminino) dentro de si, portanto as dualidades corpo/espírito e mente/consciência precisam ser transcendidos. Então, por meditação, ritualização e outras práticas, é possível dar mais alguns passos em direção à compreensão da ciência do Shiva Tantra. Todas essas questões são tratadas nos próximos capítulos do livro. Quanto à autorrealização em si, ela exige vivência da consciência que está sendo exposta nos diálogos com Shiva (parte II da obra), ou seja, da vida cotidiana enquanto realidade também espiritual e da espiritualidade em tudo o que compõe a vida material.

3- Sobre os yantras e rituais no Shiva Tantra, como fazer uso desses recursos na rotina do discípulo?

Esses recursos só devem compor a rotina do discípulo através do Templo e do(a) Mestre(a) Espiritual autorrealizado(a), enquanto ele(a) mesmo(a) não estiver totalmente pronto para saber usar dos yantras nas suas meditações e/ou executar rituais. Na Religião Neo Bhagavata, tal conhecimento só se torna acessível ao devoto que já recebeu a segunda iniciação, tendo adquirido direito a um sacerdócio.

4- “Estar para sempre no pensamento do Senhor Shiva,” é o pensamento que está sempre no Senhor sem interrupção?

É o pensamento da unidade não dual, porém mantendo a individualidade, ou seja, na relação pessoal com Bhagavan. Quando vivemos a União Mística com Shiva, nossos pensamentos e os dEle, em muitos momentos da linearidade, são unos. Ao mesmo tempo, nossa consciência transcendental está sempre pareada com a dEle, de modo a estarmos sempre no Seu pensamento e Ele no nosso.

5- Poderia se dizer que ao realizar Shiva Shakti estamos realizando toda natureza, a vida no planeta do qual pertencemos e não temos consciência, ou seja, elevando-se deste substrato e elevando-nos à verdadeira Mãe e ao verdadeiro Pai?

Shakti é a Natureza e Shiva é Deus. Portanto, ao realizar Shiva Shakti, realiza-se a vida nesse planeta e nos universos e demais regiões divinas e celestiais. Shiva Shakti é a consciência eterna, que transcende ao desconhecimento e à falta de consciência, a qual você se refere na sua pergunta. Além do que, sim, a Natureza e Deus são a Mãe Divina e o Pai Eterno de todo mundo.
 
6 – Gostaria que a Senhora esclarecesse mais sobre a interconexão do sadhana do praticante tântrico incluindo nessa busca, “travar contato (em Shiva Tantra) com as inteligências geométricas Transcendentais-Divinas de Shiva, Parvati e Ganesha”.

O sadhana do praticante do Tantra da Pessoa de Deus, conforme exposto nesse livro, deve respeitar a individualidade das Divindades. Isso porque o caminho meramente impersonalista nega a existência dElas, considerando-as como representações de energias ou dinâmicas que toda alma contém dentro de si. No caminho que propago, em bhedabheda, vivemos a unidade com as Divindades e, ao mesmo tempo, a relação com as Pessoas dElas. Travar contato com as inteligências geométricas transcendentais divinas de seres divinos significa preservar suas individualidades, não negando-as como no impersonalismo puro. É preciso ter essa verdade eterna sempre em mente no sadhana do praticante desse Tantra.

7- A Senhora poderia elucidar os significados de “função shástrica em tantra” dos novos diálogos tecidos nesse livro? E o que são os Agamas mencionados?

Agamas são escrituras tântricas, transferidas do mestre para o discípulo, sendo Shiva o Mestre e Parvati (Shakti) a discípula. Elas pertencem a várias escolas ou ramificações do Hinduísmo, havendo algumas que não estão acessíveis para leitura atualmente. Escrituras são textos shástricos, então o diálogo entre Shiva e Shri têm função de escrituras, sendo como os Agamas, conjuntos de orientações da Inteligência Original Feminina, procurando o caminho, através de Suas perguntas e das respostas dEle (de Shambhu, Shankara, Mahadeva), que elucidem o que está além da razão linear.

8 – Tendo dito tudo o que foi colocado no Shiva Tantra, uma pessoa que segue esses ensinamentos, para se libertar das teias de maya; e que não seja praticante da Religião Bhagavata da Nova Era, consegue ascender somente através destes, e com a orientação do(a) Mestre(a) Espiritual?

Sim. É possível alcançar a meta do Tantra por meio apenas do seu processo. No entanto, a Religião Neo Bhagavata o complementa e o enriquece, aumentando ainda mais as oportunidades para o avanço da consciência do(a) devoto(a) rumo à sua transcendência.

9- E o que fazer, ou estabelecer como metas de estudos para alcançar a Meta Última através deste Tantra?

Inicialmente, é preciso compreender os significados práticos de cada uma das frases, parágrafos e capítulos do livro que o descreve. Isso deve ser feito sob orientação da Mestra Espiritual que, em plena União Mística com Shiva, o trouxe para a experiência linear. Então, por meio dos caminhos por ele descrito e, se o(a) devoto(a) for Neo Bhagavata, das demais obras shástricas genéricas e específicas que dão embasamento ao Caminho da Flor de Lótus, ir se aprofundando na experiência, se autorrealizando gradual e infinitamente.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Introdução ao Shiva Tantra

Figura 1 - Ardhanareshvar (Fonte: Agung Setiawan)
 

Resumo do Livro Shiva Tantra Para Libertação Espiritual


O que fazer para que a pessoa humana possa perceber e escutar as palavras de Deus (Shiva)? Como se dirigir à pessoa humana ao se tratar da Absoluta Consciência? Pois, no que se refere as palavras de Deus, à Sua abrangência e o amor que vem Dele (de Mahadeva), o que é uma imensidão, pode-se dizer que a humanidade não os alcança, para eles não se despertou. 

Então, o que é preciso fazer para que se abram os olhos, os sentidos e os ouvidos da pessoa humana? Será que a alma já liberta para a experiência divina deve se preocupar com os rumos provenientes das imperfeições que a raça humana tomou?  

Inclusive porque na verdade as questões que envolvem uma consciência que já não está mais no meio material, estando emancipada, não são verdadeiramente inquietações, e sim, uma parte do olhar de um todo, que está absorta no Senhor que a preenche. E esta alma eterna, quando o alcança, não se engana, porque se deixa guiar por Ele (Shiva), no perfeito e infinito amor.

Pois, sendo o Senhor de todos os mundos e de todos os seres (Pashupati), é Ele quem desenha tudo segundo Sua vontade, e o que Ele quer, é se expressar para a transformação das almas. Elas que, afastadas que estão da Sua Presença, então voltam-se para o Seu amor. Afinal, é esse amor que as impulsiona a desejarem evolução e felicidade eterna. 

Este livro se fez de uma maneira espontânea, naturalmente, num diálogo que é eterno entre o Senhor (Shiva) e Sua contraparte (Shakti), os princípios masculino e feminino. Deve-se procurar entendê-lo em partes ou ao todo, percebendo-se padrões eternos contidos neste diálogo. E assim, ao se reconhecer nas verdades contidas no mesmo diálogo, sendo este verdadeiro, lógico, perfeito e imbatível, a alma se identifica, pois ele está dentro dela. Onde o Shiva Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan) se expressa para a mente humana e conduz o pensamento para a lógica perfeita e o autocontrole das ideias. Dentro do qual, a Sua orientação é a descrição do Tantra, que é traduzido através desta escrita, e que não se esgota, pois é infinita em Sua perfeição e sabedoria.

Revendo-se nele, a pessoa humana, ao direcionar-se para a busca do equilíbrio, não se abrindo às imperfeições da mente e resguardando-se, buscando, a partir de dentro dela mesma, por outras conformações, irá encontrar novas atitudes para a vida.  

Enfim, com a mente pacificada, na autorrealização através do Tantra, a compreensão se faz, levando a alma a servir a Deus (Shambhu), estando absorta em vontade de conhecê-lo. Ela entende que servir ao Senhor (Shankara) é a primeira coisa a se fazer, não havendo nada mais importante na vida da alma que o busca, pois, seu objetivo é atingir a Meta Última e gozar de uma vida plena, desfrutando da intimidade com a Pessoa Suprema (Bhagavan, Bholenath). 

Deve-se compreender, no entanto, que o buscador da luz deve procurar caminhar lado a lado de quem já atingiu o ponto mais elevado que se revela nesse diálogo com Shiva. Ponto esse que se expressa nas linhas do livro com pureza, dentro da lógica eterna concedida por Ele mesmo, para que haja a luz da transformação e, a partir dela, que se possa rumar para a libertação.


Perguntas/Respostas
Diálogo Entre Prema Sakhi e Guru Ma Shri


1-Com referência às perguntas (inquietações), no início do primeiro parágrafo, como a senhora responderia a elas: O que é preciso ser dito para que a pessoa humana aprenda a querer escutar as Palavras de Deus? O que é preciso escrever para que a pessoa humana comece a perceber-se diferente do que está sendo por enquanto?

Durante minhas buscas por tais respostas, no diálogo eterno tântrico com Shiva, concluo que não há nada que possa ser dito em definitivo para que a pessoa humana queira escutar as Palavras dEle. O que pode ser feito (e de fato estamos fazendo) é trabalhar com serenidade no coração, sempre expressando a vida interior ao lado de Shambhu, através de tudo o que se escreva e o que se faça. Deixar fluir tal interioridade por meio de tudo o que se escreva e o que se realize, de modo a que cada alma tenha o contato que consiga ter com as Palavras de Shiva (Shakti) e, na medida do seu próprio tempo, aprenda a querer escutá-Lo mais. Da mesma forma, posso escrever infinitamente o que conheço, por estar em uníssono com Mahadeva em tudo o que penso e, mesmo assim, nem todas as pessoas do mundo haverão de se interessar pelo que eu escrevo. Alguns virão, no entanto, a despertar para um aspecto ou outro do que possa estar expressando. Será o Tantra se manifestando por meio de quem desperta como parte do meu próprio despertar no uníssono com Ele (em Shiva Shakti Tantra).

2-E sobre o diálogo entre os aspectos femininos e masculino, ele (o diálogo), pode acontecer em todas as rasa (com todas as almas)? Ou é exclusivo dentro do aspecto masculino e feminino de Deus?

O diálogo que travo é específico à rasa em que estou junto dEle, ou seja, Shakti Rasa (em Madhurya Bhava). Porém, por serem as almas tipos diferentes de fagulhas dessa relação essencial do Divino Casal, todas elas podem se autorrealizar, realizando dentro de si mesmas aspectos do diálogo e/ou ao diálogo na sua íntegra, ao se autorrealizarem como o que de fato são. E o que elas são depende do tipo de rasa que experimentam na lila eterna da Pessoa Suprema (de Bhagavan). De qualquer forma, todas tais fagulhas contém dentro dos seus corações ao Paramatma, Deus como Ele pode ser reconhecido pelas almas em particular, segundo sua natureza e função na Ordem dos Universos. Sendo assim, cada um encontrará Shiva Shakti em seu coração, podendo conviver com os aspectos masculino e feminino de Bhagavan, a partir de seus próprios aspectos masculino/femininos. São o macrocosmo e o microcosmo construindo reciprocamente uma relação, que é o próprio diálogo em si, sendo compreendido e autorrealizado pela alma na sua rasa em particular.

3-No texto em que se refere às opções para diversas tendências que povoam o mundo como prática do tantra (página 10), a Senhora poderia me esclarecer mais sobre as tendências que povoam o mundo?

As opções que existem são as diferentes maneiras de interpretar o tantra, conforme se pode compreender na continuação da leitura do livro. A começar pelo Tantra da Mão Direita e o Tantra da Mão Esquerda. Além do Tantra não-dualista (Advaita), o dualista (Dvaita) e o dualista/não-dualista (Dvaitadvaita ou Bhedabheda). Além de todas as vertentes que dão conformação tão múltipla ao Shaivismo e ao Shaktismo, assim como a possibilidade de se praticar o tantra com dedicação exclusiva ou em paralelo a outras práticas religiosas e esotéricas. São infindáveis as tendências, as quais em geral costumo considerar partes de um Hinduísmo Integral.

4-E quais as opções podemos encontrar neste mundo tão carente de espiritualidade verdadeira?

Têm muitas opções para diferentes necessidades, sendo que eu propago o Sistema Filosófico-Religioso Neo Bhagavata, o qual nasce de um aprofundamento puro no diálogo desse Shiva Tantra. Só posso falar com precisão sobre ele, pois é o caminho que me conduz daqui da vida linear à experiência transcendental e da transcendental de volta para cá, em um traçado eterno, contínuo e dinâmico de vida autoiluminada em Shiva Shakti Tantra. Para saber sobre as outras opções só mesmo através de aceitação de um(a) Guru (Ma) da linha em particular que se queira conhecer e por meio dela tentar se autorrealizar. Mas garanto que algumas não conduzem para muito além da esfera meramente linear do pensamento que está enraizado na materialidade da época atual.

5-Como posso me observar melhor e mais claramente nas atividades diárias, praticando o Tantra dentro da rotina?

Buscando por Bhagavan Shiva Shakti (Ardhanareshvar) em ação direta nas suas relações existenciais, o que começa pelos significados práticos desse diálogo. Por significados práticos quero me referir àqueles que começam e terminam na maneira como eles chegaram até você. Através do ato meditativo deve dar expressão ao que o Casal Divino expressa por meio de uma relação particular com sua alma, na rasa que você está junto dEle(s). Isso não se dá em reclusão, mas na rotina diária, na qual as escolhas devem ser regidas pelo Tantra de Bhagavan, dentro da tendência na qual foi disposta, ou seja, no Sistema Filosófico-Religioso Neo Bhagavata e no Hinduísmo Integral, conforme ele é ensinado por sua Guru Ma. Esse é o meio para qualquer um que queira praticar o tantra, dentro de uma especificidade em particular da alma (sua rasa) e do caminho que ela segue (sua comunidade espiritual).

6- E Como se posicionar no mundo diante dos acontecimentos, segundo os ensinamentos do Shiva Tantra mantendo o equilíbrio? Assim como no trecho do livro que diz “quem conhece a unidade que há entre estas partes e se reconhece como uma das mesmas, se integra ao mundo e busca por equilíbrio com ele.”

No tantra tudo segue a mesma lógica, a qual é compreendida pela mente transcendental, a partir do diálogo entre Shiva Shakti. As partes funcionam em um uníssono, estando integradas na totalidade de Bhagavan. Sendo assim, mesmo os acontecimentos mais aparentemente desconexos com a perfeição suprema encaixam com os demais acontecimentos, segundo uma lógica maior, que precisa sempre ser observada e compreendida, para que haja autorrealização contínua e dinâmica no aqui-agora, que é também linear, embora a linearidade seja apenas um aspecto da experiência transcendental. Sabendo disso, os acontecimentos dessa época passarão, assim como os de outras épocas também passaram, mas a eternidade nunca passará, fazendo o equilíbrio predominar sobre o caos.

7- A Senhora poderia me falar mais sobre os padrões da humanidade que existem na Senhora e os padrões da Senhora que existem na humanidade?

Os padrões da humanidade que existem dentro do que é eterno em mim são fragmentos do todo em que eu estou para sempre configurada junto do meu Par, que é a Pessoa de Deus (Shankara). A eternidade dos meus padrões formam um mecanismo que gerencia aos demais meios de os fragmentos se encaixarem no meu todo, modificando-se continuamente, como parte de uma Obra que jamais deixa de existir. Mas os fragmentos em si não existem para sempre, o que existe é a perfeição que os atrela uns aos outros, dando uma conformação inteligente a tudo o que há na Totalidade de Shiva Shakti. Portanto, os padrões da humanidade são arquétipos, enquanto os padrões que estão em minha Verdadeira Natureza dão significados aos arquétipos, quando eles são compreendidos a partir da Mente de Deus (Bhagavan, Bholenath), sendo, portanto, atrelados uns aos outros no conjunto maior que é a Natureza (Prakrti, a Shakti) e Deus (Adi-Purusha, o Shaktiman - controlador da Shakti).

sábado, 19 de outubro de 2024

Diálogos com Shiva sobre a Experiência Transcendental

 


Shiva está expressando um jeito de ser ou humor de Deus Supremo. Afinal, “Krishna contém Hara, desde o ponto de vista Vaishnava, porém, Shiva contém Hari, desde o ponto de vista Shaiva. Na verdade, sendo Deus a Pessoa Suprema, sempre que Ele é considerado como tal, trata-se da mesma e única Absoluta Consciência que está sendo percebida, de alguma maneira, pela mente humana. Muitas vezes, esta mente, ainda em estado condicionado, pretende desconsiderar o que lhe escapa à razão, de modo que os que seguem uma religião deixam de aceitar o que outros realizam através de uma linha religiosa diferente da sua. Desta forma, fragmenta-se o pensamento, fragmentando-se também à compreensão do Supremo Significado dos nomes do Senhor[1]”.

Sendo assim, para quem o compreende dessa maneira, o Senhor se relaciona com a pessoa a Ele devotada de uma maneira em particular, a maneira que fala mais ao coração do/a devoto/a. Em um certo momento, Ele então veio a orientar-me, direcionando-me ao que precisa ser realizado ainda. Isso tem sido assim, desde que houve a necessidade de abrir-me para expressar significados transcendentais das vivências materiais e/ou o que as vivências materiais em si representam para a vida transcendental. Isso acontece para quem atinge certo estágio de espiritualidade emancipada, quando não importa se aquele/a que se emancipou se ocupa com questões materiais, já que ele/a sempre está consciente no plano divino, consciência essa que transcende as percepções que se limitam ao que os órgãos vitais conseguem captar.

Associamos tal estágio à maturidade da flor de lótus que está no coração individual de cada um, quando ela se abre, exalando doce fragrância. “Neste estágio, a alma transparece a quem a observa com atenção a condição espiritual que a caracteriza. Tal processo de abertura da flor de lótus envolve etapas de renúncia, o que conduz ao que Shri Krishna menciona quando ensina que:

 

kama-krodha-vimuktanam  yatinam yata-cetasam

abhito brahma-nirvanam  vartate viditatmanam

 

“Para aqueles ascetas, que estão livres do desejo material e da raiva, que subjugaram suas mentes e que realizaram o eu interior, a morada da liberação está presente ao redor (Bhagavad-Gita 5.26)”. Esta morada permite que possa haver acesso ao universo de rasa[2], ou seja de intimidade pessoal na relação com a Pessoa de Deus, com Krishna, Shiva (ou como Ele se chame para você). De dentro de uma condição assim, escrevi alguns livros, um dos quais foi intitulado Shiva Tantra para Libertação Espiritual – o Tantra da Pessoa de Deus (Bhagavan), a partir do qual, retomo aqui trechos de um diálogo que pude transcrever das minhas experiências com Mahadeva.

 

Shri – Está se referindo, então, a aprendizagem que a alma eterna tem que ter dentro do mundo material? Ensina-me se correta es­tou, Shambhu, meu eterno amor, meu Senhor. Começo a pensar sobre o que Você mesmo me falou. Seria agora o inverso do que já me ocorreu? Ou seja, assim como precisei aprender a, par­tindo de um corpo material, viver a experiência transcendental, agora tenho que estabelecer-me no mundo material enquanto alma transcendental?

Shiva – Esta é a verdade que andava tentando entender e ago­ra entende, enfim. Não há como ser feliz eternamente, enquanto alma eterna, se a alma que não pertence mais ao mundo material não aprender a dentro dele se expressar, enquanto eterna e ilimi­tada ela consegue ser, estando absorta no mundo que transcende aos limites da escala material (como ela está). Desta forma, in­verta suas percepções sobre si mesma e desenhe outras lógicas, de modo a pensar e ser quem de fato é, apesar de viver em um dos infindáveis universos externos ao Meu mundo transcendental.

Shri – Pode ser mais específico agora, dando-me mais pormeno­res sobre como isso se faz possível haver?

Shiva – Está certa sempre que controla as ideias, assumindo-Me como quem pensa o que deve pensar. O difícil tem que passar, de modo a que consiga aos seus modos reorganizar. Para que haja controle, tem que se compreender, de maneira a perceber­-me como quem pensa e a si mesma ao que está sendo pensado. Então, se deixe estar pensando o que eu penso, aceitando o que estou fazendo-lhe entender. Entenda-se por se controlar, desen­volvendo as ideias que eu precisar que venha a desenvolver.

Shri – Quando Você me oferece Suas explicações, entendo o que quer dizer. No entanto, ainda tenho muito que praticar. Portanto, abro-me agora plenamente para Suas orientações.

Shiva – Querida de Minha Eterna Suprema Alma, que transcende ao mun­do material e ao que é meramente pertencente ao universo da vida individual, ouça-Me e pratique o que tiver que praticar, a fim de a Mim mesmo compreender. Compreendendo-Me, irá entender-se com mais clareza, afinal, é a mesma Contraparte que em unidade plena Comigo eternamente está. Para entender­-se assim, veja-Me agindo em tudo o que a faz haver; e para se ver sendo o que eu faço que haja por meio de seu jeito de estar, aceite-se sendo o que eu a faço ser. É difícil de praticar ao que eu digo?

Shri – A dificuldade penso estar na maneira de interagir com este mundo material, o qual por muito tempo vi como sendo impossível de controlar. Agora vejo-o no controle, mais, ainda preciso aumentar isso em mim, de modo a que este novo jeito de ao mundo ver sobrepuje o jeito que havia antes de melhor Lhe compreender. O que me instrui, então, a procurar perceber?

Shiva – Instruo-lhe a amar ao mundo do jeito que ele se faz, pois, seu amor está em Mim e o mundo também está. Entenda-se e a Mim como o que faz ele (o mundo) haver, de modo a ver-nos travando interações amorosas em tudo o que na forma dele se expõe. Ainda mais claramente irá a tal mecanismo poder ver nos eventos que a envolvem diretamente e naquilo que precisa mais diretamente enquanto pessoa pensar. Pense-se, então, estando em meu meio de me manifestar e ao seu modo de se expressar em Mim como o que causa o mundo da maneira em que ele está e aos mecanismos que fazem ele ser o que ele é.




[1] Do livro Religião Bhagavata da Nova Era, Shri Krishna (com Shri Krishna Madhurya), Sétimo Raio (2014, p. 25). Trata-se de uma obra básica para a expressão Neo Bhagavata do Hinduísmo Integral, que estudamos, praticamos e propagamos.

[2] Do livro Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus, de Shri Krishna Madhurya (2016).

SHIVA

  Shiva é uma dádiva que se fornece por Ele mesmo para o ser humano de cada uma das épocas ter consciência de si e de Deus. Ele se faz compr...