Após vários dias de festividades, finalmente, “Himavat, o sensível afetuoso pai com seus filhos, acompanhou Ela até o local onde o Senhor esperava alegremente com os Devas. Todos estavam felizes e animados com amor. Eles reverenciaram ao Senhor com devoção. Louvando a Ele, Eles retornaram a Kailasa. (...). Após tomarem a refeição, os Devas e os Ganas, com suas mulheres fartamente ornamentadas com gemas e joias, se prostraram perante o Senhor da Lua. Depois de agracia-Lo com palavras agradáveis e de o circumambularem com alegria, eles prestaram louvor à celebração do casamento e retornaram às suas moradas (Shiva Purana Rudresvara Samhita 3.55.17-18)”.
Adentrando aos Seus aposentos íntimos, o vozerio das pessoas e Sua alegria se tornam distantes, abafados pela sensação de felicidade que agora se faz entre ambos. A plenitude está dentro dEles, formando a unidade eterna que os faz tão íntimos. Eles se veem tanto como uma Pessoa quanto como duas Pessoas em uma. Esta é a impressão que agora predomina, a qual é a conclusão natural deste casamento. É como ver um espectro de outra pessoa dentro de si mesmo, enquanto quem vê também se observa vendo-se assim. Um ao outro se percebem da mesma maneira, deleitando-se do prazer intenso desta união perfeita.
Shankara de cabelos avermelhados como o fogo e Parvati de pele de cor acastanhada escura se adoram mutuamente. A adoração é intensa e a relação é extática, fazendo com que o mundo tanto desapareça por completo quando esteja ele todo ali presente como parte de tal completa unidade. Shiva é a alma, enquanto Parvati é o corpo. Ele é a consciência, enquanto Ela é a forma que a mesma consciência desenha para si. Shiva é a luz e Parvati é a escuridão que a claridade da luz ilumina. Ele é o pensamento e Ela é a atitude que resulta do pensar. Eles se complementam e Sua complementaridade se faz evidenciar nestes primeiros momentos de intimidade após Seu casamento.
Ambos se entregam à atividade de se contemplarem
reciprocamente, doando-se apenas um ao outro, de modo a estabelecerem entre
ambos o amor mais puro que se possa conceber. Nenhuma mágoa, nenhuma
imperfeição se interpõem entre Eles. Nada de lamentações ou de acusações. Sem
haver a necessidade de se perdoar ou de se arrepender. Não há o que exista em
qualquer um dos três mundos que possa a tal beatífica mútua contemplação
interromper, pois, é ela que perpetua o existir de tantos mundos. Shiva é o Purusha e Parvati é Prakrti, Ele é o Todo e Ela o que o Todo contém. Tudo isso pude
perceber enquanto eu mesma experimentava do ápice da existência em Shiva.
Trecho do livro Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus, parcialmente
disponível para leitura. Clique
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